“Muda Brasil de verdade” era a frase em letras garrafais estampada no painel que decorava a convenção que sacramentou a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência. Diante dela estavam perfilados os líderes do movimento de apoio ao deputado que então postulava o cargo máximo do país com a promessa de quebrar a espinha dorsal das velhas práticas políticas. O evento foi, acima de tudo, uma ode anti-establishment calculada para capturar a atenção e mobilizar a rejeição de parte considerável da sociedade revoltada com os escândalos de corrupção da era petista. Tudo não passava de uma farsa, hoje devidamente escancarada com a chegada do Centrão ao núcleo de poder tendo o lulista Ciro Nogueira como futuro Ministro da Casa Civil.
Não que na época já não sobrassem elementos a indicar um estelionato eleitoral em curso. O próprio Bolsonaro, afinal, havia frequentado os principais partidos fisiológicos do país. Dentre as muitas legendas pelas quais passou, destaque para o PFL, o PTB e o PP, neste último tendo ficado entre 2005 e 2016. O que contribuiu decisivamente para construir a imagem de candidato da antipolítica foi o fato de, ao longo da carreira, ter permanecido no baixo-clero, completamente alheio aos temais centrais do debate público nacional.
Havia em 2018, é bom que se diga, certo clima de ilusão a turvar a percepção coletiva. E foi dessa maneira que figuras como Luciano Bivar puderam se apresentar como fiadoras de um projeto de renovação. O capitão reformado que as liderava foi sempre um representante de categoria, defensor dos privilégios corporativos e caudatário do nacional-desenvolvimentismo. Nada menos reformista, nada mais comprometido com o sistema.
Na oportunidade em que se lançava Bolsonaro ao Planalto, seu filho discursou para um público hipnotizado pelo messianismo. Desafiou os presentes a não serem “seduzidos pelo Centrão”. Por sua vez, o General Augusto Heleno se propôs até a cantarolar “se gritar pega Centrão, não sobra nenhum meu irmão”. A história e a realidade agora cobram seu preço, e o militar terá de se contentar em prestar continência para um dos mais proeminentes representantes daqueles a quem costumava tripudiar no passado.
Tendo de responder pelas denúncias de corrupção no Ministério da Saúde e de peculato no gabinete do filho mais velho, o mandatário também colhe a impopularidade crescente resultante de sua temerária condução da pandemia. Para se salvar de um impeachment e preservar o mandato, resolveu penhorar o que restava de autoridade.
Sim, os partidos fisiológicos sempre estiveram na órbita do poder. Agora, por força do enfraquecimento de Bolsonaro, alcançaram um patamar de influencia inédita como mandantes. Os radicais bolsonaristas que sonhavam com uma disrupção pretensamente conservadora inspirada marginalmente na filosofia de Olavo de Carvalho terão de se contentar com a revolução cultural do Centrão protagonizada por Ciro Nogueira, Arthur Lira, Ricardo Barros e et caterva.
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