Instado a comentar o movimento de empresários para reverter a posição do governo Lula de apoiar uma denúncia movida pela África do Sul contra Israel pela prática de genocídio na Faixa de Gaza, o ex-presidente do PT, José Genoino sugeriu que se faça um boicote a empresas pertencentes a judeus. “Essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos que ferem interesses econômicos é uma forma interessante. Inclusive tem esse boicote em relação a determinadas empresas de judeus. Há, por exemplo, boicotes a empresas vinculadas ao Estado de Israel”, disse ao site de extrema-esquerda Diário do Centro do Mundo. É antissemitismo genuíno, sem qualquer trocadilho com o nome do petista.
Em abril de 1933, poucos meses depois de Adolf Hitler se tornar chanceler, os nazistas organizaram a primeira iniciativa sistemática contra a comunidade judaica na Alemanha: um boicote econômico. Foi feita uma campanha pública, inclusive com intimidação e constrangimento, para que alemães tidos como “puros” não comprassem, fizessem negócios ou contratassem serviços de judeus. Membros da SA, da juventude hitlerista e do aparato paramilitar nazista participaram da ação, marchando pelas ruas e identificando os alvos.
Ideias têm consequências, e essa que Genoino considera “interessante” resultou em um assassinato em massa.
Lojas foram pichadas com a palavra “judeu” e com o desenho da Estrela de Davi. Cartazes conclamando os alemães a não comprarem eram fixados na fachada das propriedades e violência retórica e física foi praticada indiscriminadamente. Ainda que a propaganda antissemita já fosse massificada, o boicote, chamado de judenboykott, foi o ato que formalizou a perseguição aos judeus como política de Estado, o que descambou no Holocausto e nos campos de concentração.
Por meio de nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib), repudiou as declarações do ex-deputado petista, preso no escândalo do mensalão. Ainda que a manifestação pública seja importante para denunciar uma fala preconceituosa, é preciso que isso se traduza também em ação penal, já que se trata de um crime. Ao defender um boicote direcionado contra pessoas de uma determinada etnia ou religião, o que ele faz é praticar a incitação e a discriminação contra estes. O Supremo Tribunal Federal, aliás, tem farta jurisprudência sobre isso.
Desde o ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel vão se avolumando casos explícitos de antissemitismo, boa parte deles sendo protagonizados por pessoas identificadas com a esquerda e a extrema-esquerda. Ataques retóricos contra “comunidade judaica” se tornaram recorrentes, inclusive na boca de políticos. Alguns disfarçam o discurso como “crítica ao sionismo”; já outros praticamente incorporaram as velhas teorias conspiratórias que antecederam a ascensão do nazismo.
Em todo o caso, é nítida a falta de uma reposta contundente das autoridades. Ideias têm consequências, e essa que Genoino considera “interessante” resultou em um assassinato em massa. É o que mostra a história e os museus a registrar o horror de um passado que vai sendo, infelizmente, esquecido, mas que a Justiça, por meio da lei, deveria lembrar.
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