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O ex-juiz, ex-ministro e agora senador eleito Sergio Moro foi exibido como troféu por Jair Bolsonaro no debate promovido pelo Grupo Bandeirantes na noite do último domingo (16). Encontrou espaço inclusive para dividir as atenções com o candidato a reeleição nas coletivas de imprensa. Falou como um ajudante de ordens para assuntos de Lava Jato. Depois de sair do governo acusando o presidente de tentar intervir na Polícia Federal e atacá-lo ininterruptamente desde então, foi recebido de volta ao seio do bolsonarismo com alguma pompa e circunstância. Se aderiu, está perdoado.
Pelo lado de Lula, a mesma coisa. A começar pelo seu próprio vice, Geraldo Alckmin. Outrora tido por setores do PT como o suprassumo do reacionarismo, virou agora o fiador da frente ampla. Quando governador de São Paulo, o ex-tucano era reiteradamente chamado de fascista por militantes que hoje o reabilitaram como grande quadro da administração pública.
O anúncio de apoio político vira um passaporte de credibilidade. É a lógica do “só presta se votar em mim".
Quem diria que economistas como Armínio Fraga, Pedro Malan, André Lara Rezende e Elena Landau, chamados depreciativamente pelas esquerdas de neoliberais, entreguistas, agentes do tal “consenso de Washington” e responsáveis pelo que Lula sempre considerou a “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso, agora seriam finalmente vistos como importantes formuladores da economia brasileira. É o milagre de declarar voto no PT contra Bolsonaro.
A frente ampla de Lula e a frente antipetista de Bolsonaro hegemonizam respectivamente os campos de esquerda e de direita. Com o centro aniquilado, essas duas forças políticas se estabeleceram como imperativos categóricos, cada qual querendo se mostrar mais abrangente e, portanto, representativa do sentimento de rejeição ao grupo adversário. Com isso, o anúncio de apoio político vira um passaporte de credibilidade. É a lógica do “só presta se votar em mim".
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O que temos é uma verdadeira lavanderia de reputações a funcionar nesse segundo turno. Adversários tratados como seres abjetos se tornam, de uma hora para outra, em heróis da pátria. No caso de Moro, o ex-desafeto pode até virar papagaio de pirata.
Há quem esteja se manifestando de um lado ou de outro com a firme convicção de, com isso, podem evitar o pior e que, eventualmente, podem influir para a moderação de seu candidato, ainda que com divergências. Há também os que exercitam o puro adesismo, especulando ter visibilidade ou espaço no próximo governo. Na expectativa de terem vez e voz, são apenas instrumento para que esses grupos alcancem o poder. Tanto o bolsonarismo quanto o lulopetismo só garantem uma coisa: o prestígio e o reconhecimento só existem em troca de submissão permanente.