Qual será o destino de Pablo Marçal depois de ficar de fora do 2º turno da disputadíssima e polêmica eleição em São Paulo? Muitos projetam que ele possa disputar o pleito de 2026, talvez até como candidato presidencial. Certamente cativaria eleitores, inclusive dentro do bolsonarismo, em todos os quadrantes geográficos do país. Tenho para mim, entretanto, que seu destino é a inelegibilidade. A Justiça Eleitoral não ficará indiferente ante as operetas fraudulentas que ele protagonizou no curso da campanha, especialmente a publicação de um laudo toxicológico fraudulento que imputava consumo de cocaína ao seu concorrente Guilherme Boulos (Psol).
O ex-coach não é exatamente uma “novidade” na eleição. A retórica desaforada contra “tudo o que está aí” é tão velha quanto a mais antiga das oligarquias. O que ele fez foi apenas recapturar o espírito original do bolsonarismo e reciclá-lo com uma linguagem de livro de autoajuda. Desafiou o monopólio político criado pelo ex-presidente no campo da direita e o levou às últimas consequências, comprando briga, inclusive, com membros da família Bolsonaro.
A rejeição aos candidatos do campo progressista parece cristalizada nos centros urbanos, ainda que o PT tenha feito mais prefeituras em 2024 do que em 2020
Mesmo o ex-presidente se sentiu desconfortável em aparecer na campanha política da cidade de São Paulo. Isso porque Bolsonaro sabia que, nesse contexto, encampar Ricardo Nunes (MDB) seria o mesmo que perder uma parte do público que o apoiou desde sempre. A omissão calculada, entretanto, pode ter seu preço. A sobrevivência de Nunes é resultado direto da ação de dois agentes políticos que saem como inequívocos vencedores do 1º turno. O primeiro é Tarcísio de Freitas, que se manteve impávido no palanque ao lado do prefeito, mesmo quando este enfrentava o pior momento de sua campanha, capitalizando-se como fiador de seu desempenho. O outro é o articuladíssimo Gilberto Kassab, que viu seu partido crescer como nenhum outro, ainda que tenha sofrido uma ridícula e infrutífera campanha de boicote de parte do bolsonarismo.
O desempenho da sigla de Kassab, que integra o centrão, é a representação do poderio eleitoral dos partidos que compõem esse campo. Além do PSD, que cresceu 35% em número de prefeituras em relação ao pleito anterior, o MDB, o PP e o União Brasil foram os mais vitoriosos em 2024. Tal capilaridade denota como se dará o equilíbrio das forças políticas do país. Em entrevista para a jornalista Daniela Lima, Kassab disse que “o centro está maior que a direita” e que os líderes políticos que “saíram maiores” foram os que “ampliam, não que cerram fileiras”.
Enquanto o centrão e o bolsonarismo ampliam seus respectivos espaços, a esquerda, principalmente a petista, enfrenta dificuldades objetivas. A rejeição aos candidatos do campo progressista parece cristalizada nos centros urbanos, ainda que o PT tenha feito mais prefeituras em 2024 do que em 2020. Como já havia escrito em uma coluna anterior, o partido de Lula corre o risco de ser dizimado nas capitais. Mesmo disputando o 2º turno em quatro delas, haverá dificuldade para se alcançar a vitória.
Em entrevista para a CNN, Gleisi Hoffmann afirmou que o partido “saiu do calvário”. O resultado, entretanto, aprofunda a “lulodependência” do PT, que parece não conseguir se desvincular do atual presidente, nem compreender o que o levou a vencer Bolsonaro em 2022. Na atual acomodação das principais forças políticas, o petismo ficou num distante terceiro lugar.
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