Carla Zambelli foi deixada à própria sorte. Seu destino provável é ter o mandato cassado. Reeleita com mais de 946 mil votos, ela se tornou um estorvo. Não para a esquerda, mas para o próprio Jair Bolsonaro. O ex-presidente bem sabe que a cena dantesca da deputada correndo nas ruas de São Paulo com um revólver em punho no encalço de um homem negro pode ter-lhe tirado uma montanha de votos em 2022. O fato ocorreu na véspera do 2º turno da disputa presidencial. Na época, Zambelli não apenas colocou pessoas em perigo e infringiu a legislação eleitoral, como também pode ter contribuído para a derrota do candidato que ela defendia.
É a partir desse episódio que o distanciamento entre Bolsonaro e Zambelli começa a tomar forma. Agora ele é escancarado pelo próprio ex-presidente, que admite não ter mais contato com ela. 'Nunca mais estive com ela, nem atendi telefonema dela. E ela queria falar comigo um tempo atrás e não respondi', afirmou a jornalistas depois de se encontrar com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes. Questionado sobre a razão de não falar mais com a deputada, Bolsonaro respondeu que se 'recolheu desde o 2º turno das eleições', que não fala com 'quase ninguém', tendo voltado 'a pouco tempo a quase normalidade da vida pública'.
Ao contrário do que afirma o ex-presidente, sua agenda de compromissos políticos é intensa desde que voltou dos Estados Unidos. Além de encontros recorrentes com Tarcísio de Freitas e Valdemar da Costa Neto, Bolsonaro teve tempo até para participar da filiação no PL de seu ex-desafeto político, o vereador Fernando Holiday, ex-integrante do Movimento Brasil Livre. Bolsonaro não se encontra com Zambelli porque decidiu mantê-la bem longe, tanto de forma profilática quanto para, o quanto possível, reduzir danos.
No último dia 2 de agosto, a Polícia Federal bateu na porta de Zambelli. Os agentes cumpriam mandados de busca e apreensão numa operação que apura invasões ao sistema do Conselho Nacional de Justiça numa tentativa de inserir documentos falsos, inclusive um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A investigação levou à prisão do hacker Walter Delgatti Neto, conhecido pelo seu envolvimento na Vaza Jato.
No depoimento que deu à polícia, Delgatti Neto acusou Zambelli de ter ordenado a invasão e financiá-la. Aos investigadores, ele disse que 'foi pago para ficar à disposição da deputada'. Citou os assessores que o teriam pago, e disse que a transferência foi feita via PIX. Também mencionou o próprio Bolsonaro, revelando que, durante um encontro, o ex-presidente teria perguntado se 'munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica'.
A tentativa destrambelhada de invadir o sistema da Justiça serviu para aumentar a fervura de Zambelli no círculo íntimo de Bolsonaro. O caso, afinal, descambou também para afetar o ex-presidente, recentemente tornado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo a coluna de Igor Gadelha, no portal Metrópoles, 'ao saber da notícia, Bolsonaro teria classificado Zambelli como maluca, inconsequente e tóxica'.
Além do caso envolvendo o hacker da Vaza Jato, a deputada enfrenta outras 4 investigações no âmbito eleitoral. Isolada dentro do bolsonarismo, é improvável que seja defendida até mesmo pela integralidade da bancada do PL, que parece dividida quanto ao seu futuro político. Preservar seu mandato, afinal, pode significar o prejuízo de ela permanecer em evidência. O cálculo é que perambulando pelo Congresso, Zambelli possa representar um risco maior do que correndo armada pela rua."
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