O Brasil precisa de um Ministério das Comunicações? É claro que não. Quem precisa do Ministério das Comunicações é o governo, para ter o que entregar ao centrão. É por isso que a pasta recém criada agora está sob o comando de Fábio Faria, genro do apresentador Silvio Santos e parlamentar do PSD com histórico de apoio aos governos petistas. Ele será o responsável por uma enorme estrutura administrativa, que inclui a Secretaria de Comunicação Social (órgão responsável pela distribuição e destinação da publicidade estatal). E aqui é necessário dizer: dado seu parentesco com um dos maiores empresários do ramo das comunicações no país, não é exagero considerar que a nomeação flerta perigosamente com o conflito de interesses.
Fábio Faria é apenas o mais vistoso integrante do Centrão a ingressar no governo Bolsonaro. Eleito com um discurso “contra tudo o que está aí” e pelo “fim da patifaria”, o presidente vem se aproximando do grupo político que ele condenou de forma desabrida e veemente ao longo de sua campanha eleitoral. Não foi apenas em uma vez que o atual presidente criticou o loteamento de cargos, a partilha de ministérios e as coalizações de governo.
Ao contrário da campanha, na prática foram distribuídos cargos para apaniguados de históricos fisiológicos. O senador Ciro Nogueira, do Progressistas, indicou seu chefe de gabinete para ocupar o posto de Presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do Ministério da Educação responsável pela gerência de R$ 54 bilhões. Outra indicação de Ciro Nogueira, esta com o apoio do Senador Arthur Lira, que também é do Progressistas, foi para a direção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Por sua vez, Valdemar da Costa Neto, dirigente do PL, emplacou nomes na direção do Banco do Nordeste e na diretoria do FNDE. Já um ex-assessor de Geddel Vieira Lima (aquele da malas de dinheiro) foi nomeado para um cargo no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
E que se diga: coalizações de governo são parte integrante do jogo democrático. Como são montadas e com que propósito, é outra história. Uma coalização de governo pode servir para implementar as bases da estabilidade econômica ou um projeto de poder baseado em corrupção.
Ao fomentar o seu próprio isolamento (principalmente pela incitação contínua do conflito com os demais poderes), o presidente vislumbrou que corria o risco de perder o mandato, assim como aconteceu com Dilma Rousseff. Foi ao mercado de consciências, que é amplo dentro do Congresso Nacional, e começou a operar no sentido de montar uma base. Não uma base que dessa sustentação a projetos de interesse nacional, mas uma base que assegurasse sua permanência no Planalto.
O movimento de Bolsonaro deve ser analisado sob a régua de sua própria retórica. E daí a sua coerência não para de pé. Cadê, afinal, aquela postura estoica de combater as negociatas? Foi deixada para trás, pragmaticamente. E que não se diga que o presidente nunca teve apoio nenhum por parte dos parlamentares. O projeto de Reforma da Previdência apresentado por seu governo foi aprovado por larga margem tanto na Câmara quanto no Senado. Alias, não fosse o esforço do Congresso, nunca teria passado.
O imaginário bolsonarista trocou Sérgio Moro, o símbolo da Operação Lava Jato, por Valdemar da Costa Neto, mensaleiro ícone da tramoia petista que tinha como objetivo fraudar a democracia. Tudo isso, obviamente, para combater o establishment e salvar o país.