O tenente-coronel Mauro Cid virou personagem recorrente nos escândalos da era Bolsonaro. Ele foi preso preventivamente no último dia 3, acusado de fraudar dados no sistema de registro de vacinação do Ministério da Saúde. A adulteração incluía certificados falsos atribuídos ao ex-presidente e também a sua filha. Alvo de uma penca de inquéritos, fica cada vez mais claro, a cada nova linha investigativa que se desdobra, que Cid era menos um ajudante de ordens e mais um ajudante de tramoias, participando de conspiratas das mais variadas.
O primeiro caso envolvendo o militar é de 2021, quando, por meio de quebra de sigilo telemático ordenado pela Justiça, se descobriu que teria vazado para Jair Bolsonaro o teor do inquérito que apurava a invasão hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral. De posse das informações sigilosas de uma apuração inconclusa, o então presidente fez uma live falsificando a natureza do ataque, sua abrangência e usando isso para questionar a segurança das urnas eletrônicas.
A proximidade entre Mauro Cid e Bolsonaro é inconteste e cristalina, ainda mais pelo cargo que este ocupava.
Mas não apenas. Foi o mesmo Mauro Cid quem, ao final de 2022, protagonizou a derradeira tentativa de resgatar as joias árabes dadas de presente por um príncipe saudita a Bolsonaro. Os bens, avaliados em mais de R$ 16 milhões, estavam retidos na alfândega do aeroporto de Guarulhos desde que foram flagrados escondidos na mochila de Marcos André dos Santos Soeiro, assessor do ex-ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Mauro Cid foi responsável por montar uma verdadeira força tarefa para obter os objetos, inclusive despachando um subordinado ao local e fazendo ligações de maneira a pressionar os servidores da Receita Federal. As informações sobre o papel do ajudante de ordens de Bolsonaro constam no depoimento de Clóvis Félix Curado Júnior, da Secretaria Especial de Administração da Presidência da República.
VEJA TAMBÉM:
Outras revelações devem surgir nas próximas semanas, à medida em que as autoridades tiverem acesso a todo o conteúdo constante no celular apreendido do tenente-coronel. Já se sabe, por exemplo, de trocas de mensagens sobre remessas de dinheiro para fora do país. No dia em que foi preso, a Polícia Federal identificou US$ 35 mil e R$ 16 mil em espécie em sua casa. O montante teria sido sacado de uma conta bancária em Miami. Por isso, ele também é suspeito do crime de lavagem de dinheiro.
A proximidade entre Mauro Cid e Bolsonaro é inconteste e cristalina, ainda mais pelo cargo que este ocupava. Tinha acesso direto ao presidente da República. Foi, portanto, figura central no governo durante quatro anos. E, como resta evidente, não era apenas um mero coordenador da burocracia palaciana. Tratava dos assuntos de interesse pessoal do seu senhorio. A transversalidade de sua atuação nebulosa é reveladora do que se passava no núcleo duro do bolsonarismo e até mesmo do eventual envolvimento direto do ex-presidente em todos esses casos.