Jair Bolsonaro e Arthur Lira.| Foto:
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Há quem possa imaginar que o discurso colérico e conspiracionista de Jair Bolsonaro seja incômodo ao Centrão, que agora manda e desmanda no governo. A chegada de Ciro Nogueira ao Ministério da Casa Civil foi vista como esperança de que o tom do presidente se atenuaria, trazendo algum nível de normalidade ao ambiente político em Brasília. Em sua posse, o novo titular da articulação política se definiu como um “amortecedor”, e que buscaria contribuir para “diminuir tensões”. O que se viu foi o contrário.

O presidente intensificou seus ataques ao sistema eleitoral e ao poder Judiciário, inclusive vazando investigações da Polícia Federal e fazendo mais acusações. Nem a derrota da PEC do voto impresso o fez recuar, apesar de garantir a Arthur Lira que aceitaria o resultado do Congresso Nacional. No dia seguinte a votação, conversando com apoiadores, disse que hackers foram bancados pelo Foro de São Paulo, pelas Farc e pelo PCC para desviar 12 milhões de votos para Fernando Haddad nas eleições de 2018. Admitiu não ter provas de nada.

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O presidente da Câmara não pareceu incomodado com Bolsonaro não ter cumprido sua promessa. Enquanto a sociedade se perdia num debate estéril e eivado de falsificações sobre auditabilidade das urnas eletrônicas e segurança do voto, o Centrão viabilizava as condições para a volta das coligações nas eleições proporcionais. Para isso, especulou também criar o malfadado Distritão. Tudo ajambrado na correria, na calada da noite, no limite do tempo para que as modificações pretendidas sejam válidas já para 2022.

Com a articulação espúria, siglas de aluguel ganham fôlego, uma vez que agora poderão negociar tempo de rádio e TV naquelas alianças de ocasião que obedecem apenas a lógica dos interesses particulares de seus proprietários. Tudo isso financiado com os recursos públicos de um fundão eleitoral bilionário e também costurado pela liderança do governo.

Militando contra apuração eletrônica e atacando o TSE, Bolsonaro conseguiu mobilizar sua tropa com um tema quente, saindo do corner no qual havia sido jogado pelas denúncias envolvendo o esquema de negociação de vacinas no Ministério da Saúde. Atacando a institucionalidade o presidente sequestra a atenção nacional, deixando espaço livre para que Lira tratore uma agenda de mudanças na legislação eleitoral em benefício do grupo que lidera. É uma parceria de sucesso à custa da democracia e da moralidade.