O presidente Jair Bolsonaro já mostrou em diversas oportunidades que não tem maturidade emocional. Costuma reagir muito mal sob pressão. Quando o ministro Luís Roberto Barroso determinou que Rodrigo Pacheco instaurasse a CPI da Covid, o presidente saiu porta afora do Palácio da Alvorada para distribuir ameaças e denunciar um conluio entre o magistrado e a oposição. Agora, com o início das investigações no Senado e os primeiros depoimentos sendo colhidos, ele voltou à carga.
Bolsonaro não gostou nada das acusações feitas por Luiz Henrique Mandetta na primeira sessão da Comissão. E, enquanto Nelson Teich denunciava a pressão do Planalto para que a prescrição de cloroquina fosse institucionalizada como política pública, o mandatário resolveu usar um ato oficial para distribuir ataques. Voltou a afrontar o STF falando em decretos excepcionais que não poderiam ser contestados por nenhum tribunal, e aproveitou para fazer insinuações contra a China.
A um só tempo, o presidente da República voltou a estimular um conflito entre poderes e entes federados, e deu margem para mais um conflito diplomático. Seu falatório também serve de sinalização aos seus militantes, que tomaram as ruas no último dia 1° maio em manifestações de caráter francamente golpista. Ele sabe que é preciso alimentar essa a turma com a retórica inflamada. Para tanto, nada melhor que fustigar os inimigos preferenciais: STF, governadores, prefeitos e, claro, comunistas asiáticos.
O presidente resolveu teorizar sobre guerra “química, bacteriológica e radiológica”, dando a entender que o Coronavirus poderia ser uma arma. “Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?”, questionou. E arrematou apontando seu alvo para o oriente: "Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para você”. E nem precisaria.
Vivemos um momento de escassez de vacinas. É o resultado objetivo do descaso do governo no combate à pandemia. Em nada menos que onze oportunidades documentadas, o Ministério da Saúde recusou ofertas para aquisição de imunizantes. O que temos depende de insumos oriundos do país que virou alvo da boçalidade gratuita do presidente e de seu séquito.
Sim, isso pode escandalizar os tocadores de bumbo governistas, mas as boas relações com a China são fundamentais nesse momento. Para além das fronteiras agrícolas e exportações em geral, dependemos dela para o recebimento do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) que serve como matéria prima da Coronavac, responsável por 80% das imunizações no Brasil. Mas não apenas isso. É de lá que são importados EPIs, respiradores e outros produtos e equipamentos importantes para a área saúde. A reação insana de Bolsonaro não salvará o Ocidente, nem derrubará Xi Jiping, mas poderá atrapalhar o esforço de produção de novas vacinas por aqui.
A batalha ideológica de Bolsonaro, feita para desviar a atenção da CPI e agradar néscios e maltrapilhos intelectuais, é contraproducente, anticapitalista e atenta contra os interesses nacionais. Nada poderia ser mais antipatriótico, e mortal aos brasileiros.
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