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CPMI
Adesão à CPMI para investigar atos de 8 de janeiro aumentou após vazamento de imagens que mostram invasão ao Palácio do Planalto.| Foto: CNN Brasil/reprodução

Está posto, desde já, que o objetivo dos bolsonaristas na inevitável CPMI do 8 de janeiro não será o de investigar nada, muito menos de esclarecer, mas, sim, o de subverter a realidade. Vão tentar dar verossimilhança ao discurso delirante de que a destruição promovida em Brasília por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro foi fruto de uma urdidura do lulopetismo, que teria deixado o ataque acontecer para se beneficiar politicamente. Como se a punição aos responsáveis não viesse também se a vandalização não tivesse sido bem-sucedida.

Desde o dia do ato há farta especulação (sem qualquer evidência) de supostos infiltrados de esquerda e maquinações outras. Uma das primeiras dava conta de que o relógio do Século XVII que foi destruído por um militante com a camisa de Bolsonaro teria sido fruto de uma armação. Isso porque o objeto mostra outro horário daquele constante no momento da gravação. A câmera de segurança do local exibe 15h33, ao passo que no relógio histórico aparece 12h25. Seria “a prova” de que isso teria ocorrido antes da tomada da sede dos Três Poderes. Na verdade a explicação é mais simples, óbvia e prosaica: os ponteiros estavam parados porque o relógio de 400 anos já não funcionava mais. Mas vá dizer isso aos detetives de Twitter. Aqueles Sherlocks a criar seus dossiês de fancaria para serem compartilhados em massa nas redes sociais.

Uma CPMI minimamente séria vai se debruçar sobre os réus, os financiadores do ataque e suas conexões com possíveis beneficiários. Mas não apenas sobre eles.

Na última semana, com a divulgação de uma truncagem de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto, os bolsonaristas se sentiram encorajados a renovar o repertório de teorias conspiratórias. Tudo porque o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, general Gonçalves Dias, foi flagrado perambulando pelas dependências do prédio ainda com os golpistas livres. Ainda que sua postura revele despreparo ou incapacidade de lidar com a situação, (e ele foi imediatamente demitido) isso não significa que estivesse ali para facilitar o trabalho dos invasores.

No exame pormenorizado de frames devidamente recortados e descontextualizados, houve até quem divagasse sobre o motivo de cinegrafistas estarem presentes registrando tudo. Os pontos de interrogação levantados são tão grandes quanto o desconhecimento do trabalho exercido por esses profissionais. É de praxe que se infiltrem nos piores e mais arriscados lugares. Ou não teríamos nenhuma imagem de batidas policiais ou dos horrores dos campos de batalha nas guerras do mundo afora. No ataque do 8 de janeiro, muitos dos que perpetraram as ações violentas se jactaram em vídeos ou registros próprios, de modo que não surpreende que tenham posado para fotos e vídeos enquanto vilipendiavam o patrimônio público.

Será preciso limpar a espuma conspiracionista que visa transformar os que sofreram a tentativa de golpe em golpistas.

Para além das paranoias que se retroalimentam, o que se sabe mesmo é que a falha sistemática na segurança do Eixo Monumental começou no trabalho da Polícia Militar do Distrito Federal e incluiu o grosso dos agentes do GSI que aparecem nas filmagens. Quase todos herdados do governo Bolsonaro na gestão do ex-ministro Augusto Heleno. O oficial militar que aparece oferecendo água para os vândalos era da equipe de viagens do ex-presidente. Outros tinham participado de eventos diversos, incluindo motociatas.

Também se sabe que a intentona bolsonarista se deu no contexto de outras ações, todas elas tendo como epicentro o acampamento ilegal montado na frente do quartel do Exército. E aí se inclui a invasão da sede da Polícia Federal no dia da diplomação de Lula e a tentativa de atentado a bomba na sede do aeroporto de Brasília, na véspera de Natal. Também teria tudo isso ocorrido com a ciência do governo eleito que ainda não havia assumido?

Isso pode até doer na alma de alguns, mas o fato é que Lula foi um dos primeiros a apontar as possíveis omissões e conivências diante do ocorrido em 8 de janeiro. Num café da manhã com jornalistas, ainda no dia 12, disse que “teve muita gente da Polícia Militar conivente, muita gente das Forças Armadas aqui dentro coniventes”. Também falou sobre a facilidade com que os militantes adentraram nas dependências do Executivo: “Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar, porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”. Ora, se tudo ocorreu em consonância com o interesse do PT, qual o sentido da fala de Lula? E, portanto, qual a surpresa com as imagens reveladas quando essa era a suspeita do governo desde o início?

Uma CPMI minimamente séria vai se debruçar sobre os réus, os financiadores do ataque e suas conexões com possíveis beneficiários. Mas não apenas sobre eles. O GSI, as autoridades estaduais e quem quer que tenha contribuído ativamente para a realização do maior atentado contra a democracia brasileira em décadas também precisam ser devidamente investigados. E para isso, será preciso limpar a espuma conspiracionista que visa transformar os que sofreram a tentativa de golpe em golpistas.

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