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Chefes do Legislativo, o procurador-Geral da República, todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, 22 governadores, prefeitos de capitais e quase todos os ex-presidentes e candidatos à Presidência da República estiveram na posse de Alexandre de Moraes na terça-feira (16). Também estava o atual mandatário, Jair Bolsonaro, acompanhado de sua esposa e seu filho Carlos Bolsonaro. Apesar de, no início, tentar parecer simpático e até cochichar algumas coisas no ouvido de Moraes, à medida que as manifestações em favor do sistema de votação se intensificaram, ele foi mudando de feição. Fechou a cara, tal qual um cadete obrigado a ficar uma tarde prestando continência debaixo da chuva.
“Somos a única, a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia. Com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, disse o recém empossado presidente do TSE. Foi interrompido por um quase uníssono de palmas, com muitos que estavam presentes se levantando naquele momento. Durante quase um minuto, apenas Bolsonaro se mantinha estático, sem nem mesmo dirigir o olhar para o púlpito em que falava Alexandre de Moraes. Na plateia, Carlos Bolsonaro repetiu o pai, sentado e meio encolhido cercado de pessoas manifestando apoio ao que disse o ministro.
O alvo que Bolsonaro colocou nas urnas eletrônicas, e, portanto, na lisura das eleições, fez despertar um sentimento de apoio coletivo dos demais agentes políticos.
As imagens mostrando o desconforto de Bolsonaro entram para a história. Denotam sua incompatibilidade com o contrato institucional do qual ele, como presidente da República, deveria ser um dos maiores defensores. Foi por causa dele, aliás, que tantas autoridades estiveram presentes na posse de Moraes. Em outros tempos, o evento se resumiria ao formalismo de sempre, sem despertar maior interesse da sociedade da imprensa. A democracia saudável é aborrecida e rotineira. O alvo que Bolsonaro colocou nas urnas eletrônicas, e, portanto, na lisura das eleições, fez despertar um sentimento de apoio coletivo dos demais agentes políticos.
A conduta de Bolsonaro fez a posse de Moraes se transforma na celebração de um modelo de votação que traduz a forma como exercemos a nossa democracia, e que precisa ser apoiado e sustentado por todos os protagonistas de nossas instituições. É claro que Bolsonaro sabia muito bem que não iria gostar do que seria dito na cerimônia, mas o que mais ele poderia fazer a não se submeter ao rito? Afinal, foi convidado pessoalmente para ir, sendo sua eventual ausência, em detrimento da presença de todos os demais, uma sinalização por demais negativa. Precisou estar lá, mesmo com aquelas caras e bocas, mesmo com o semblante nervoso.
É improvável que o presidente pare seus ataques ao sistema de votação. Sua tropa precisa continuar a ser mobilizada, e o receio de uma fraude contra ele na eleição é força motriz para tanto. O evento, entretanto, delimitou o isolamento institucional do presidente. Ainda que o falatório contestador de Bolsonaro não passe disso, e que ele flerte com o possível não reconhecimento do resultado, a depender do que as urnas mostrarão, o fato é que, se perder, ele terá de se contentar a repetir a cara fechada e franzida que ostentou no TSE.