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Nomear Dilma Rousseff para a presidência do banco dos Brics foi uma forma inventiva e elegante de Lula despachá-la para o outro lado do mundo. A um só tempo, ele presta tributo a uma fiel aliada, mas também a mantém bem longe do atual governo. Seis anos desde seu impeachment, as marcas profundas da catastrófica passagem da ex-presidente pelo Palácio do Planalto continuam presentes na estrutura econômica, administrativa e social do país, comprometendo até mesmo a imagem do atual mandatário, que é menos lembrado pelo pragmatismo de seu primeiro mandato e mais pela debacle que ela protagonizou entre 2013 e 2016, os anos que o PT gostaria que Brasil esquecesse.

A operação política terá óbvio custo financeiro. Como principal executiva da instituição, a petista ganhará cerca de 500 mil de dólares por ano. Terá a atribuição de coordenar investimentos em países do bloco num orçamento que chega a 32 bilhões de dólares. Experiência não lhe falta. Foi ela quem, em 2006, como ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor do contrato de compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Obsoleta, a estrutura industrial acabou gerando um gigantesco prejuízo à companhia. Ainda que absolvida pelo Tribunal de Contas da União por supostamente ter agido de má-fé, é incontestável, a aquisição foi um dos muitos péssimos negócios que se deram sob suas rédeas. Russos, chineses e indianos devem estar ansiosos.

A indicação de Dilma obedece a um critério puramente político. Um prêmio de consolação a despeito da ignorância e da incompetência.

Dilma não está assumindo uma sinecura qualquer. Trata-se de um organismo internacional de crescente relevância, dada a dimensão dos países membros. É por isso que o retrospecto de seus feitos públicos não pode ser subtraído da análise que é feita de sua indicação. Afinal, estamos falando de uma figura que levou o Brasil a uma queda no crescimento do Produto Interno Bruto que nem mesmo a pandemia de Covid-19 foi capaz de igualar. Para além das pedaladas fiscais, que serviram de justa e legítima motivação para seu afastamento pelo Congresso Nacional, há um conjunto extenso de feitos negativos durante seus seis anos de governo que a deslegitimam e desmoralizam para o exercício desse tipo de função.

É importante repor a história, ainda mais quando, de volta ao poder, o lulopetismo busca impor o revisionismo sobre o seu período anterior no poder. A ex-presidente legou ao seu sucessor um cenário inaudito em que compatibilizou inflação recorde, juros altos e desemprego de dois dígitos. E isso não foi resultado de um complô de Joaquim Levy, Eduardo Cunha e o Movimento Brasil Livre. Foram as escolhas dela e de sua equipe de heterodoxos e terraplanistas econômicos. Gente que achava capaz de subverter anos de avanços na agenda fiscal em nome de uma idílica “nova matriz desenvolvimentista e anticíclica”. Uma espécie de keynesianismo traduzido pelo dilmês.

A formulada não poderia dar em outro resultado. Em 2016, o país encontrava-se devastado. Empresas públicas haviam perdido capital e credibilidade mais pelas intervenções governamentais do petismo do que por corrupção, e todos os preceitos e institutos fiscais construídos ao longo de duas décadas de Plano Real se tornaram letra morta. Que Michel Temer, em pouco mais de dois anos e sob fogo cerrado da esquerda inconformada tenha devolvido o mínimo de credibilidade para a economia brasileira é uma façanha difícil de ser compreendida.

É preciso ter essa conjuntura em mente quando falamos de alguém que ocupa agora o posto de presidente do banco dos Brics. Lula, por óbvio, não estava minimamente interessado em analisar o retrospecto ou o currículo de Dilma. Em seu íntimo, até o presidente da República sabe que ela não está gabaritada para a função. Apesar de formada em economia, a indicação de Dilma obedece a um critério puramente político. Um prêmio de consolação a despeito da ignorância e da incompetência.

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