O lulopetismo sempre operou na modalidade do “nada presta” e na lógica política de fazer “terra arrasada”. Foi assim em 2003 quando, apesar do legado positivo do governo Fernando Henrique Cardoso, Lula tratou de descrevê-lo como uma “herança maldita”. Instrumentalizou a conquistas alheias e colheu os frutos das políticas que condenou ao longo de sua carreira antes de chegar ao poder. A história é conhecida. As condições de 2023 após a saída de Jair Bolsonaro, é verdade, não são nada generosas, mas nem aqui se pode ignorar o que de bom foi deixado, inclusive nomes que se tornaram relevantes no cenário global, como Ilan Goldfajn.
Nas últimas semanas, a ala desenvolvimentista do governo eleito, liderada pelos indefectíveis Guido Mantega e Gleisi Hoffmann, tratou de operar para adiar a eleição no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Queriam impedir que Goldfajn fosse eleito para a presidência da instituição. O ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff chegou até mesmo a enviar uma carta para Janet Yallen, Secretária do Tesouro dos Estados Unidos. No documento, Mantega argumentava que Lula faria outra indicação. Houve até a especulação de que o Brasil poderia apoiar um nome de outro país.
Ao invés de abraçar um nome de notória capacidade, o lulopetismo raiz preferiu o boicote, apenas porque a escolha de Goldfajn foi do governo Bolsonaro.
Goldfajn é um quadro técnico de altíssimo gabarito. Ocupou a presidência do Banco Central do Brasil durante a presidência de Michel Temer e, em dois anos, ajudou a reconstruir os indicadores econômicos devastados pelas ideias de gente como Mantega e outros. Quando assumiu a função, a inflação estava em 9,32%. Entregou o índice em 2,76% e a taxa de juros em viés de queda. Antes da função pública, acumulava enorme experiência no setor privado e atuando como consultor em organizações internacionais. Tinha currículo e realizações de sobra. Sua indicação ao BID, portanto, passava longe de mera vinculação ideológica.
Ao invés de abraçar um nome de notória capacidade, o lulopetismo raiz preferiu o boicote, apenas porque a escolha de Goldfajn foi do governo Bolsonaro. Colheu, entretanto, a primeira de suas derrotas no campo das relações exteriores. O fracasso da manobra aloprada foi a culminância de revezes para Mantega, que também teve de se afastar da equipe de transição depois que o anúncio de seu nome fez os mercados tremerem e a Bolsa de Valores cumular prejuízos.
Dado o seu histórico de patuscadas econômicas, soava até ridículo que Mantega tivesse a pretensão de tentar fazer uma indicação ao BID. Proibido pelo Tribunal de Contas da União de ocupar função pública em virtude das pedaladas fiscais, queria se projetar como eminência parda da economia global. Não poderia dar certo.
O episódio revelou a primeira rachadura entre as alas do novo governo. É sabido que Goldfajn contava com o apoio de Geraldo Alckmin e da senadora Simone Tebet, vinculados com setores políticos de centro. O vice-presidente eleito, aliás, tratou de celebrar a vitória do novo presidente do BID, usando sua conta no Twitter para enaltecer que “pela primeira vez o BID terá um brasileiro no seu comando”. Não se dependesse do lulopetismo raiz, é bom que se ressalte.
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