Participando da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, Lula voltou a condenar o conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano, e aproveitou para ressaltar o que chama de “genocídio na Faixa de Gaza”. Também lembrou que Benjamin Netanyahu, assim como Vladimir Putin, “foi julgado pelo Tribunal Internacional”. Cobrou também a falta de cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Além do silêncio em relação a temas em que o Brasil tem influência real (caso da Venezuela), o petista tratou de temas nos quais o país tem pouca ou nenhuma relevância, como o Oriente Médio. E, nesse particular, sempre com aquela obrigatória dose de relativismo.
Ainda que se possa questionar alguns dos métodos aplicados pelo governo Netanyahu, é inequívoco que Israel reage ante inimigos dispostos a varrer o país do mapa e exterminar os judeus. Parte dos inocentes mortos no processo foi vítima do modus operandi dos grupos terroristas, verdadeiros alvos das operações militares das Forças de Defesa de Israel. E isso, por óbvio, inclui até mesmo brasileiros.
Ainda que se possa questionar alguns dos métodos aplicados pelo governo Netanyahu, é inequívoco que Israel reage ante inimigos dispostos a varrer o país do mapa e exterminar os judeus
Na última quinta-feira, o governo brasileiro emitiu uma nota sobre a morte do adolescente brasileiro Ali Kamal Abdallah, atingido por bombardeios durante o ataque israelense ao Líbano. O Itamaraty descreve que “o adolescente e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram atingidos por explosão como resultado dos intensos bombardeios aéreos israelenses na região, na segunda-feira”. O documento também aproveita para reiterar a “condenação nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades”. Estaria tudo certo com o teor da nota, não fosse o histórico de posições de nossa diplomacia com outras mortes de brasileiros no Oriente Médio.
As palavras fazem sentido. E ausência delas ainda mais. A que me refiro? Em outubro de 2023, o governo Lula também se posicionou sobre a morte de outro brasileiro: Ranani Nidejelki Glazir. O tom, entretanto, foi muito distinto. Nascido no Rio Grande do Sul, Ranani tinha 24 anos e estava na rave realizada nas proximidades da Faixa de Gaza alvo inicial do ataque do grupo terrorista Hamas ocorrido em 7 de outubro em Israel. O texto se referiu genericamente ao “falecimento de cidadão brasileiro em Israel”. Como se a morte fosse resultado de um mal súbito ou de um acidente qualquer. O brasileiro, entretanto, foi assassinado por extremistas islâmicos. A nota passa ao largo, sem nem mesmo mencionar o Hamas.
Tanto Ali Kamal quanto Ranani foram vítimas da violência crescente na região, que vive um momento de impasse e de escalada permanente ao longo do último ano. Nenhuma das mortes dos brasileiros no Oriente Médio é menos importante e o tratamento a elas deveria ser rigorosamente o mesmo pelas autoridades brasileiras. Mas fica evidente no comparativo das notas que o governo petista escolheu apenas uma para se condoer.
Que se note: enquanto em um texto se enfatiza o bombardeio israelense, no outro se omite o Hamas. E a única razão para compreender tal comportamento é o alinhamento da política externa brasileira, que foi se tornando cada vez mais refratária à Israel. Hoje a relação entre os dois países está estremecida. Mas isso não deveria importar, ainda mais quando envolve nossos cidadãos. A gravidade da morte de Ranani não pode ser abreviada em relação à de Ali Kamal apenas pelos amores ideológicos de quem está no poder.
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