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Guilherme Macalossi

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Opinião

Guedes é rebaixado a ajudante de ordens de Ciro Nogueira

O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Edu Andrade/Ascom/ME)

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Especular as razões que levam Paulo Guedes a permanecer no governo é um bom exercício imaginativo. Vaidade? Apego ao cargo? Contenção de danos? Conformismo? Genuflexão ideológica? A última hipótese parece a mais provável, uma vez que, de outro modo, o que ele vem passando poderia ser claramente interpretado como humilhação. Poucos a tolerariam nesse grau. Mas ele continua lá, o que faz crer que se adaptou bem a essa nova realidade. No processo, virou uma figura pálida, que agora também se sujeitará aos desígnios do Centrão.

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro rebaixou Guedes a função de ajudante de ordens de Ciro Nogueira. O manejo do orçamento federal não será mais responsabilidade do Ministério da Economia, e sim do Ministério da Casa Civil, que agora terá a palavra final nas decisões tomadas. Mostrando que continua fiel ao governo, Guedes tratou de vazar para a revista Veja que gostou de perder o poder, uma vez que agora sofreria "menos pressão".

A mudança veio por meio do decreto 10.937 de 12 de janeiro de 2022, que delega as competências do Ministro da Economia, mas condicionadas à “manifestação prévia favorável do Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República”. Ciro Nogueira é quem manda, e ponto final.

Nas últimas semanas, a base parlamentar do governo entrou em rebelião contra a Ministra da Secretaria de Governo Flávia Arruda. Integrantes de partidos como PSL, Republicanos, PP e PL manifestaram insatisfação pelo não cumprimento de acordos envolvendo a liberação de R$ 600 milhões em emendas de bancada. Com o decreto da semana passada, esse tipo de situação tende a não ocorrer mais. Ficará mais fácil, portanto, que a base obtenha o que quer, A lógica é atender aos interesses desse grupos políticos, necessários para a pretensão de reeleição de Bolsonaro.

2021 se encerrou com a âncora fiscal descaracterizada em nome de um projeto eleitoreiro. A lei do teto de gastos, que até então seria o limite de tolerância para Guedes permanecer no governo, acabou esgarçada e pervertida com sua ajuda, resultando em um calote histórico nos precatórios e a criação de uma despesa permanente sem indicação de fonte de receita. A necessidade de aumentar as despesas vai na mesma linha da necessidade de aumentar o controle político dos recursos públicos.

A chance de reeleição de Bolsonaro está hoje condicionada ao populismo e não à responsabilidade fiscal. Guedes, não é mais fiador de uma agenda econômica, e sim de um slogan despido de compromisso. Apesar de ser levado à sério por cada vez menos gente, ainda consegue usar suas palestras para alimentar a ilusão reformista em setores do mercado. Ele garante que tudo fica para o próximo mandato. Claro. Enquanto isso, o fisiologismo avança. Em outra época, Ciro Nogueira e seus pares já se contentariam em controlar o orçamento secreto. Agora controlam o secreto e oficial.

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