Desde que foi feito o primeiro registro da explosão ocorrida no hospital Al-Ahli, na Faixa de Gaza, parte considerável da imprensa ocidental passou a responsabilizar Israel acusando o país de massacrar os palestinos. O fogo que emanava do meio da escuridão de uma região sob cerco militar e bombardeios intensos somado ao potencial número de vítimas criou um fato poderoso o suficiente para ampliar a demonização do Estado Judeu, inflamar manifestações pelo mundo inteiro em favor da “resistência palestina” e esvaziar a agenda do presidente americano Joe Biden, que estava em viagem para a região. Mas era tudo mentira, como as evidências foram mostrando ao longo dos dias que se seguiram.
O grupo terrorista Hamas vendeu sua versão dos fatos e os jornalistas a compraram pelo valor de face. Sem contestação, sem critério analítico, sem checagem, sem qualquer desconfiança em relação à origem da informação. Ao contrário, houve até esforço em dar até um verniz de institucionalidade e ar de legitimidade política aos extremistas que, poucos dias antes, estavam a degolar bebês. O noticiário foi inundado de manchetes como “autoridades de Gaza informam”, “segundo o Ministério da Saúde de Gaza”, dentre outras variações que circularam com força em alguns dos mais prestigiados veículos dos Estados Unidos, da União Europeia e do Brasil.
Fez-se a opção de dar credibilidade a uma súcia de bárbaros e não a um país democrático.
Já no dia seguinte, alguns poucos analistas e voluntários especialistas em geolocalização começaram a montar o quebra-cabeça do ocorrido, recuperando vídeos diversos e cruzando-os com mapas e cálculos de possíveis trajetórias do projétil. A própria luz do dia se encarregou de evidenciar a fraude difundida pelo Hamas. Uma foto da BBC mostrava o estacionamento do local e os destroços de veículos, mas nada de grave com os prédios do entorno. O hospital jamais fora atingido, nem mesmo é possível dizer quantos de fato morreram (se é que alguém morreu).
Tudo não passou de propaganda de guerra, devidamente difundida por meios de comunicação ocidentais ansiosos em encontrar elementos a sustentar a narrativa de uma falsa simetria entre dois lados com dimensões morais e civilizatórias distintas. E aqui é necessário evidenciar que não apenas as informações saídas da boca dos jihadistas foram aceitas de pronto como, por outro lado, as negativas de Israel foram tratadas com absoluta desconfiança. Fez-se a opção de dar credibilidade a uma súcia de bárbaros e não a um país democrático.
O primeiro mea-culpa veio do New York Times, que havia dado capa para a versão do Hamas. Os editores publicaram uma nota admitindo que o conteúdo original “incluindo as manchetes, alertas de notícias e canais de mídia social, dependeram muito das alegações do Hamas e não deixaram claro que essas alegações não podiam ser verificadas imediatamente”, e que “os editores do The New York Times deveriam ter tido mais cuidado com a apresentação inicial e sido mais explícitos sobre quais informações poderiam ser verificadas”.
Ainda que a errata seja necessária, não se trata de um equívoco banal, de uma barrigada daquelas que se corrige apenas pedindo desculpas. O maior importante jornal do planeta panfleteou uma mentira grotesca que serviu para fomentar o ódio a Israel. Repassou um press release fabricado por terroristas e, pela sua influência, fez com que outras publicações dessem o mesmo foco em suas respectivas coberturas.
O episódio é revelador de um antissemitismo velado disfarçado de antissionismo a inocular as redações e orientar, ainda que involuntariamente, parte da mídia no Ocidente. Será necessário buscar um meio de extirpar esse vício estrutural de perspectiva de forma a regatar a credibilidade da imprensa que acabou como caixa de ressonância do Hamas. Não se faz jornalismo cultivando fontes nos túneis da Faixa de Gaza.
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