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A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, e o presidente Joe Biden, durante evento de campanha em março de 2024.
A vice-presidente Kamala Harris e o presidente Joe Biden, durante evento de campanha em março de 2024.| Foto: Allison Joyce/EFE/EPA

É bem possível que o pronunciamento de Joe Biden na última quarta-feira (24) tenha sido um dos últimos atos públicos relevantes de sua presidência. A partir de agora, oficializada sua desistência de concorrer nas eleições americanas, deverá ser definitivamente isolado, tornando-se uma figura meramente decorativa na Casa Branca. A elite democrata se encarregará de evitar que Biden apareça para atrapalhar. Sob os holofotes negativos desde o debate, ele é foco de desgaste permanente e pode comprometer a permanência do partido no poder.

“Decidi que o melhor caminho a seguir e passar a tocha para uma nova geração. Essa é a melhor maneira de unir nossa nação. Há um lugar e um tempo para isso. Há um tempo para seguir a vida pública. E há tempo também para vozes frescas, vozes mais jovens. Esse lugar, esse tempo, é agora”, disse Biden durante a transmissão. Quem acompanhou pode ter sido levado ao erro de pensar que sua saída da corrida eleitoral se deu por altruísmo, senso de nobreza, visão de estadista ou algum outro sentimento nobilitante. Mas a razão foi bem mais prosaica e mundana. Biden foi obrigado a se retirar porque seus correligionários tinham sua derrota como certa.

Biden acabou. Tchau para ele. Sem perspectiva de poder, as atenções agora se voltam única e exclusivamente para Kamala Harris, que precisará enfrentar a tarefa inglória de se desvencilhar de um governo pessimamente avaliado

Apenas alguns dias antes de publicar uma nota confirmando sua desistência, Biden havia reafirmado sua disposição de continuar. E o fez tentando mostrar até alguma força física. Durante um comício em Wisconsin, no início de julho, disse que continuaria na disputa presidencial e iria “ganhar de novo”. Nancy Pelosi e Barack Obama, este último o principal líder democrata, pareciam ter outra visão e cercaram o presidente pressionando para que fizesse exatamente o contrário. Isolado, acabou cedendo. Sua disposição não mudou, mesmo na hora derradeira, mas não havia escolha.

Biden acabou. Tchau para ele. Sem perspectiva de poder, as atenções agora se voltam única e exclusivamente para Kamala Harris, que precisará enfrentar a tarefa inglória de se desvencilhar de um governo pessimamente avaliado, ainda que seja integrante dele. O desafio adicional para ela também será o de se conectar com as massas. Amplamente desaprovada como vice-presidente, Kamala ascendeu em meio a uma oportunidade política inédita na história recente dos Estados Unidos, mas ela não foi o resultado de uma escolha pública.

Ao contrário de Trump, que surge como líder inconteste não apenas de um partido, mas também de um movimento político, Kamala, por outro lado, é a escolha de uma elite dirigente. Ela não participou das prévias e não foi votada pelos eleitores registrados do Partido Democrata. A razão para ser ela a substituta de Biden diz mais respeito aos benefícios de uma escolha pragmática de quem pode usufruir dos recursos já amalgamados na campanha do que pelos seus próprios predicados.

Em parte da imprensa, que não disfarça sua simpatia pela nova candidata, se passa a falsa percepção de que a rapidez dos delegados democratas e das principais lideranças do partido em lhe apoiar é resultante de um carisma e de uma liderança irresistível. Mas está longe disso. Ou alguém acha sinceramente que o Partido Democrata iria para sua convenção em processo aberto sem ter um nome previamente definido? No limite do tempo para definir quem concorreria com Trump, os caciques optaram por uma decisão pragmática, e, ironicamente, politicamente conservadora.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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