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Lula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro.| Foto: Christophe Petit Tesson/EFE; Joédson Alves/EFE

Certo de que seria reconduzido ao Palácio do Planalto já em 1° turno, Lula ignorou o debate presidencial promovido pela Rede Globo em 2006. Sua ausência foi alvo de ataques contundentes de seus adversários, inclusive do hoje aliado Geraldo Alckmin. Sua ausência foi ainda mais sentida porque a emissora deixou no cenário a cadeira em que sentaria. Vazia, ela acabou representando o candidato que se recusava a responder por seu mandato. Ainda que não tenha decidido o resultado final, o fato, junto com a revelação do dossiê Vedoin, contribuiu muito para adiar a vitória do petista, que só ocorreria no 2° turno.

A estratégia de Lula não foi inédita. Em 1998, Fernando Henrique Cardoso também decidiu que não compareceria aos debates. Deixou Lula e Ciro Gomes falando sozinhos. Para ele, entretanto, a decisão não teve maior impacto. Identificado como responsável pelo Plano Real e pela estabilidade econômica advinda da criação da moeda, tinha capital suficiente para arriscar. E deu certo. Fez 53% dos votos.

Tanto Bolsonaro quanto Lula têm contas a prestar, tanto do ponto de vista pessoal quanto de suas respectivas passagens pelo poder.

Agora, em 2022, há forte especulação de que nem o atual presidente, Jair Bolsonaro, nem seu principal adversário, Lula, comparecerão aos debates presidenciais. A CNN Brasil, que havia programado um para o dia 6 de agosto, decidiu pela sua suspensão exatamente porque nenhum dos dois confirmou participação. Ainda não se sabe se a Rede Bandeirantes manterá o seu, agendado para dia 14 de agosto em TV aberta.

Haverá, por óbvio, adequada e natural reação dos demais pretendentes. Os argumentos, afinal, são óbvios. A crise social, econômica e institucional do país merece ser analisada a fundo. Tanto Bolsonaro quanto Lula têm contas a prestar, tanto do ponto de vista pessoal quanto de suas respectivas passagens pelo poder. Eles já estão sendo acusados de covardia política, e de tentarem impor uma eleição plebiscitária ignorando o contraditório e as demandas da população por esclarecimentos sobre o futuro.

Mas, do ponto de vista das estratégias eleitorais, faz sentido, tanto para Bolsonaro quanto para Lula, se manterem longe de debates, de críticas e de questionamentos. Afinal, só eles teriam a perder. A avaliação de suas candidaturas é que o eleitorado já parece ter consolidado sua intenção de voto, de modo que esse tipo de exposição seria prejudicial, dando palanque para aqueles que buscam desesperadamente crescer. Para que conceder espaço a nanicos ou candidatos que não representam ninguém? Da mesma forma, não teria razão para que um fosse sem que outro também estivesse. O alvo então deixaria de ser o ausente para ser o presente. Novamente, só os adversários teriam a ganhar.

Nunca antes o Brasil precisou tanto de garantias. Ocorre que a condição polarizada de nossa sociedade fundamenta o status quo que dá a Bolsonaro e Lula a licença para não se submeterem ao contraditório. Se confirmada, ausência de ambos nos debates não será apenas covardia política e falta de disposição democrática, mas, acima de tudo, cálculo eleitoral.

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