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Roberto Campos Neto foi escolhido como pichorra por Lula, que já autorizou seus aliados a lhe descerem o sarrafo. Nos últimos dias, o presidente da República passou fazer uma série de críticas à atuação do Banco Central, cuja independência funcional foi aprovada em 2021. O atual mandatário definiu a taxa de juros como “vergonhosa” e cobrou empresários para que levantassem a voz contra a política monetária. Como animal político de faro apurado que é, Lula sabe que não tem condições de mudar a legislação atual, e por isso monta um cerco para desgastar o comando da autarquia.
Ainda que seja prematuro definir qual será o nível de crescimento do Brasil em 2023, o fato é que os números recentes divulgados pelo Boletim Focus apontam para uma desaceleração. Segundo a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, integrantes do Palácio do Planalto passaram a acusar o Banco Central de fomentar uma recessão econômica no país. É um desatino, mas que tem cálculo político evidente.
Na falta de algo estrutural, resta a tagarelice e a pancadaria na pichorra, o que só serve para depreciar ainda mais o horizonte econômico.
A polarização com o Banco Central é boa para Lula, que tenta jogar a responsabilidade pelos problemas brasileiros na instituição e suas respectivas instâncias. Não, não seria o caso de apontar que tal situação seria fruto de pouco mais de um mês de seu governo. Até porque isso seria pura desonestidade intelectual, dado o contexto herdado. Atribuir isso a Roberto Campos Neto, entretanto, é igualmente indecoroso e oportunista.
Despiciendo lembrar como foi importante a atuação do Comitê de Política Monetária para frear o descontrole inflacionário registrado no início de 2022, e também a fúria gastadora de Jair Bolsonaro durante o período eleitoral. Os juros em elevação não são de hoje, nem a última ata publicada pelo órgão visa impedir que Lula deixe de fazer qualquer coisa. As ações para proteção da moeda são, no mais das vezes, reação, ao contrário do dizem rematados ignorantes em economia.
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Cortar taxa de juros não é uma decisão política. Decisão política é demitir a ministra do Turismo por seu envolvimento com milicianos. Decisão política é demitir o ministro das Comunicações que usou verba do orçamento secreto para asfaltar o acesso a um aeroporto de sua família. Baixar juros requer condições adequadas. E, atualmente, elas não estão postas.
As medidas preliminares anunciadas por Fernando Haddad são tímidas, excessivamente otimistas com elevações hipotéticas de receitas e não resolvem a bomba fiscal, muito menos estabelecem condições estruturais para uma curva descendente na Selic. A tal nova âncora fiscal ainda está sendo elaborada mas sem nenhuma pista de como funcionaria. Na falta de algo estrutural, resta a tagarelice e a pancadaria na pichorra, o que só serve para depreciar ainda mais o horizonte econômico.