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Danada essa casca de banana. Está sempre à espreita, pronta para fazer Lula derrapar. Já se tornou até uma personagem de nossa diplomacia. Pelo menos para aqueles que ainda tomam as declarações do presidente sem identificar nelas qualquer traço de dolo moral. Eis que a fruta passou a servir de licença poética para tomar como erro o que não passa de vileza. Mesmo quando o presidente usa o Holocausto como um porrete para assacar acusações contra Israel com base numa falsa equivalência entre um conflito violento e o genocídio do qual o povo judeu foi vítima.
Em viagem pela África, o mandatário brasileiro foi instado pela imprensa a comentar assuntos de temática internacional. Não teve nada a dizer sobre a expulsão de funcionários da Organização das Nações Unidas da Venezuela, tampouco da obscura morte de Alexei Navalny, líder da oposição russa que estava aprisionado num campo de concentração nos confins da Sibéria. Disse que não estava bem informado, que era necessário aguardar, que não queria cometer injustiças. O único juízo que tinha na ponta da língua era sobre a operação militar israelense contra o grupo terrorista Hamas. E saiu a falar: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse, com direito até a pausa dramática antes da conclusão do raciocínio.
Lula pariu uma crise diplomática gratuita com um país amigo, submetendo o corpo técnico do Itamaraty ao constrangimento.
Não é a primeira vez que Lula equivale algoz e vítima. Já o tinha feito quando da invasão Russa à Ucrânia. Numa vergonhosa entrevista ao The Times, disse que os dois países ansiavam igualmente pela guerra. Ele apenas aprofundou o método, passando por cima de inúmeros assassinatos em massa de forma a ressaltar um ineditismo histórico falso, ainda que a simetria fosse minimamente honesta.
A própria África, de onde Lula falou, é protagonista de perseguições, guerras e genocídios recentes numa escala de violência e brutalidade infinitamente superiores ao atual conflito no Oriente Médio. É só lembrar da guerra civil na Ruanda, em que, durante poucos meses de 1994, foram assassinadas entre 500 e 800 mil pessoas num processo descrito pela ONU como “metódico”. Da mesma forma o Sudão, onde centenas de milhares já foram mortos em Darfur desde 2003. Talvez o presidente não lembre deste último até porque, durante seu primeiro mandato, o Brasil se omitiu de condenar o país no Conselho de Direitos de Direitos Humanos da ONU, o que foi descrito à época pela Human Rights Watch como um ato de "insensibilidade e indiferença".
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Lula pariu uma crise diplomática gratuita com um país amigo, submetendo o corpo técnico do Itamaraty ao constrangimento. Foi aplaudido apenas por petistas, prosélitos nas redes sociais e pelo Hamas, que soltou até uma nota entusiasmada em que os terroristas dizem apreciar “a declaração do presidente brasileiro Lula da Silva, que descreveu aquilo a que o nosso povo palestino está submetido na Faixa de Gaza como um Holocausto”.
Segundo Celso Amorim, o grande entusiasta da política externa lulopetista, o presidente brasileiro “sacudiu o mundo”. Só se considerarmos isso pelo ponto de vista da escala de suas declarações aberrantes. Havia vários modos de se criticar a conduta do governo Israelense na ação que ocorre na Faixa de Gaza. E isso não destoaria da linha adotada por outros países ocidentais, incluindo os Estado Unidos. Mas não foi o caso. Lula preferiu a suprema ofensa, fruto direto de uma escolha moral. Lula não derrapou na casca de banana, ele, deliberadamente, atirou a casca de banana sobre 6 milhões de mortos e gerações de parentes afetados por um dos crimes mais bárbaros já cometidos na história humana.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos