Lula e os petistas não gostam da Rede Globo. Tanto que seus acólitos é que cunharam a expressão “Partido da Imprensa Golpista” para designar os veículos independentes que fizeram seu trabalho na época em que ele liderou o governo em que se deu o mensalão e o petrolão. Em várias oportunidades antes da entrevista, Lula fez menções veladas ou diretas ao jornalismo da Globo, incluindo o Jornal Nacional, principalmente sobre a cobertura que a emissora fez da operação Lava Jato.
Talvez isso explique que, na abertura de sua sabatina no Jornal Nacional, o petista parecesse tão nervoso. É difícil que um sujeito com sua malemolência política se encontre em tal condição. Daí ter lido numa de suas primeiras respostas.
Ainda que com esse problema inicial, da mesma forma que Jair Bolsonaro, não demorou até que o ex-presidente encontrasse o devido ritmo. Assim como seu adversário, ele também acabou se saindo bem na maior parte do tempo. Mas não porque os apresentadores tenham facilitado sua vida. O nível das perguntas foi semelhante em termos de dificuldade. Lulistas acharam William Bonner e Renata Vasconcellos moles demais com Bolsonaro, já os bolsonaristas acharam a entrevista uma inquisição. Na entrevista de Lula no Jornal Nacional, por sua vez, o exato oposto em relação a percepção romantizada de lulistas e bolsonaristas. Análise de torcida é só torcida.
Os entrevistadores não deixaram de perguntar a Lula sobre escândalos. E, ao contrário do que alguns supõem ser subserviência, o fato de Bonner citar a anulação dos processos contra o petista serviu, isso sim, para evitar que ele abrisse a conversa exercitando o vitimismo. Afinal, sacaria do bolso a decisão do Supremo Tribunal Federal em seu favor e nada mais poderia ser dito. O que ele não teria como negar era a existência de corrupção em seu governo. Essa, aliás, foi a primeira vez em que admitiu o mensalão, ainda que estabelecendo uma indecente hierarquia em relação ao Orçamento Secreto. Renata Vasconcellos foi precisa em contestar dizendo o óbvio: corrupção é corrupção.
Assim como na entrevista que me concedeu na Rádio Bandeirantes, Lula tentou atribuir a devastação econômica do governo petista a terceiros. Responsabilizou Aécio Neves e Eduardo Cunha. Foi contestado por William Bonner, que tratou de lembrar de Dilma Rousseff e da “nova matriz econômica”, que legou inflação, desemprego e queda do PIB. A isso Lula também não respondeu.
Esses momentos, entretanto, acabaram sendo obnubilados pela sua capacidade narrativa. Lula sabe usar as palavras, ainda que elas não tenham muita substância. Fez acenos ao centro e foi o único candidato a mencionar o próprio vice, Geraldo Alckmin. Verdadeiros ou não, seus elogios ao ex-adversário sinalizam uma concessão a setores da sociedade que rejeitam o petista. Não se sabe ainda se isso dará certo. O que já sabemos é que, como nunca antes, Lula usou o Jornal Nacional para exercitar sua retórica, transformando em grandiloquência até as suas rematadas mistificações.
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