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“O conceito de democracia é relativo para você e para mim”, disse Lula (PT) em 2023 durante uma entrevista para a Rádio Gaúcha. É uma visão torta de política e de mundo, mas que ajuda a explicar a conduta vacilante e pusilânime de seu governo ante a fraude eleitoral levada a cabo pela ditadura venezuelana. Ainda que democracias possam se diferenciar a depender do país e do regime político, todas elas guardam características em comum.
Um núcleo de valores que englobam independência entre as instituições, equivalência de condições, moderação do poder, respeito aos contratos e liberdade de associação e livre expressão. A democracia, portanto, pode sim ser definida objetivamente. E sua defesa não pode ser feita pela metade, o que equivale a defender democracia nenhuma.
Lula toma a Venezuela como um país na plenitude da normalidade democrática, o que é uma aberração pura e simples. Com isso, o que faz é legitimar o arbítrio e o autoritarismo de uma ditadura militar
Na última segunda-feira (29), o PT, partido do qual Lula é fundador e líder máximo, fez uma eloquente defesa do processo eleitoral bolivariano. O texto, assinado pela executiva do partido e publicado nas redes sociais pela indefectível Gleisi Hoffmann, é uma miscelânea de falsificações históricas. Uma sucessão de delinquências políticas intelectuais. Trata uma eleição fraudulenta já na véspera como uma “jornada pacífica, democrática e soberana”. Reconhece Maduro como “presidente reeleito”, e dá ares de legítimo e independente a um órgão servil do regime como o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
O partido de Lula deixou sua inequívoca impressão digital na maior farsa eleitoral da história recente da América Latina. O PT de Lula que diz clamar pela punição de golpistas no Brasil, endossa explicitamente os golpistas no exterior, desde que, é claro, exista alinhamento ideológico.
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Durante uma entrevista para a Rede Matogrossense, o presidente brasileiro comentou a eleição na Venezuela. Disse que não viu “nada de grave, nada de assustador”. Aproveitou também para soltar uma de suas simplificações rasteiras como possível forma de resolução do problema: “Tem uma briga, como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se ata tiver dúvida entre oposição e situação, oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. Aí vai ter a decisão, que a gente tem que acatar”, disse. Não passa de má-fé.
A quem a oposição poderia recorrer? Ao CNE, controlado pelo chavista Elvis Amoroso? À Procuradoria da República, hoje sob as ordens do também chavista Tarek William Saab? Amoroso foi o agente responsável por rasgar o Acordo de Barbados e impedir a candidatura de Maria Corina Machado. Saab, por sua vez, é um dos mais notórios perseguidores da oposição venezuelana. Nem bem a noite de domingo havia se encerrado, acusou Corina Machado e outros de tramar um ataque hacker ao país. E não deve demorar para que ordene prisões arbitrárias contra estes.
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Foi isso, aliás, que defendeu Jorge Rodríguez, presidente do Congresso chavista. Durante um pronunciamento no legislativo acusou o candidato Edmundo González e a própria Corina Machado de chefiarem uma “conspiração fascista na Venezuela”. Não há dúvida de que, assim que a comunidade internacional diminuir a atenção que dedica ao país, a repressão deve endurecer.
Na terça-feira (30), o Escritório da ONU para Direitos Humanos acusou o regime de Maduro de prender centenas de manifestantes pelo país, inclusive crianças. Segundo o colunista do UOL, Jamil Chade, ao menos sete mortes ocorreram no país e estão diretamente relacionadas com a eleição de domingo. Os números foram contabilizados a partir de investigações da Pesquisa Nacional de Hospitais e da ONG Foro Penal.
Eis a “jornada pacífica, democrática e soberana” descrita pelo PT. Lula toma a Venezuela como um país na plenitude da normalidade democrática, o que é uma aberração pura e simples. Com isso, o que faz é legitimar o arbítrio e o autoritarismo de uma ditadura militar.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos