Nem só de deslumbrados com o stalinismo e de youtubers com pouca instrução intelectual é formada a militância involuntária pró-Bolsonaro. Sim, há quem desgoste do presidente e não canse de lhe dar palanque. A turma tem um padrinho de peso, e ele ressurgiu no último dia 7 de setembro: Lula. O petista publicou um vídeo em suas redes sociais se colocando a disposição para reconstruir o país. Como de costume, o fez sem um pingo de autocrítica.

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O discurso que cativava as massas lá no longínquo ano de 2003, hoje soa dissimulado, enfadonho, clichê, velhaco e enrugado. E por uma razão muito simples: seu protagonista está desmoralizado. Não é mais visto como o vestal que prometia mudanças profundas em nossa sociedade, e sim como o condenado por corrupção que quer voltar ao poder.

Lula pode até questionar os procedimentos da Lava Jato, mas seus pulsos estão politicamente marcados por algemas, e sua voz soa como a de alguém soterrado, só que por uma pilha de processos, alguns julgados e outros muitos por julgar.

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Com pinta e postura de pré-candidato, Lula só faz o jogo de Bolsonaro.

Se falando sozinho o presidente já cativa uma parte importante da sociedade inoculando nela o medo da potencial volta de Lula e do PT, com eles no páreo o falatório ganha verossimilhança.

Derrotados no 2° turno por uma margem de 10 milhões de votos, lulopetistas foram para a oposição sem aprender nada e sem esquecer nada, principalmente de seu papel fundamental na criação das condições para a vitória de Bolsonaro. E essa recusa em aceitar isso fica patente agora.

O vídeo estrelado por Lula erra na leitura da realidade. Aponta Bolsonaro como um “monstrengo” que foi parido pelas “oligarquias brasileiras”, a quem o ex-presidente acusa de lucrarem em cima da desgraça do povo mais pobre.

Bolsonaro não é resultado do arbítrio de oligarquias. Essas estavam se locupletando com Lula no poder, inclusive dividindo o butim da corrupção industrial. Ou os empreiteiros com quem ele tinha relações até pessoais eram gente das camadas populares?

Bolsonaro foi eleito representando o discurso “contra tudo o que está aí”. Mesmo tendo frequentado o Congresso por três décadas, o então deputado o incorporou com gosto durante a última campanha, pelo menos até o advento do caso Fabrício Queiroz e a necessidade de se escudar no fisiologismo do Centrão para não perder o mandato. A retórica anti-establishment termina no gabinete do filho 01.

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Mas, independente do estelionato eleitoral que pratique, o fato é que Bolsonaro é fruto do divórcio da população com a elite dirigente. Esse processo já vinha ao menos de 2013, mas foi potencializado pelos efeitos da Operação Lava Jato, que atingiu a tudo e a todos, desde os petistas até os tucanos. As investigações serviram de combustível para que crescesse o sentimento de ojeriza à classe política.

É esse cenário novo que os lulopetistas se recusam a reconhecer. Isso porque se convenceram da própria narrativa de que, nessa história toda, Lula foi preso e seu partido apeado injustamente do poder pelo que fizeram de supostamente positivo no governo. O ex-presidente diz isso no vídeo, repetindo o argumento simplório do documentário de Petra Costa.

Ainda é fresca, na memória dos brasileiros, a passagem do PT pelo poder. Na cabeça de muitos, o partido virou a representação das piores práticas políticas possíveis. Essa lembrança persiste ainda hoje, e deverá prosseguir pelos próximos anos.

Poucos dias depois de fazer seu pronunciamento, Lula foi alvo de uma acusação pela Lava Jato, dessa vez pela lavagem de R$ 4 milhões no Instituto que leva seu nome. Se for aceita pela Justiça, se tornará mais um processo para ele se preocupar.

Lula é o adversário dos sonhos de Bolsonaro.

Ele contribui para a polarização pelos extremos, e, ao mesmo tempo, monopoliza o discurso de seu campo ideológico enfraquecendo novas lideranças que tentam surgir e que teriam menos relação com seu legado desgastado pela corrupção. Quanto mais falar e aparecer, mais o petista contribuirá para a consolidação de Bolsonaro como favorito em 2022.

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