Sergey Lavrov é um criminoso de guerra. Esse patrimônio do imperialismo russo foi recebido com pompa e circunstância pelo governo Lula na última segunda-feira (17). Exatamente no mesmo dia em que um dos principais líderes da oposição a Vladimir Putin era condenado pelo crime de “traição”. O jornalista Vladimir Kara-Murza, que foi vítima de tentativa de envenenamento em duas ocasiões, terá de cumprir uma pena de 25 anos em regime fechado em um presídio de segurança máxima por se opor à guerra na Ucrânia. Dado o histórico de mortes entre críticos do regime, é difícil imaginar que sobreviva. A circunstância dessa inequívoca violação aos direitos humanos apenas ressalta a indignidade da visita do estafeta de Moscou, que, depois do Brasil, deve seguir roteiro por ditaduras regionais como Venezuela, Nicarágua e Cuba.
As potências ocidentais já parecem cientes de que vai se construindo um alinhamento entre o Palácio do Planalto e o Kremlin. Ainda em sua última viagem no exterior, Lula voltou a tentar compartilhar a responsabilidade pelo conflito. “A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra. Porque a decisão da guerra foi tomada por dois países”, disse à imprensa em Abu Dhabi. E continuou, daí acusado também os Estados Unidos e a Europa: “O presidente Putin não toma iniciativa de paz, o Zelensky não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando a contribuição para a continuidade desta guerra”.
Lula quer o quê? Que Zelensky não revide enquanto o exército invasor destrói tudo o que encontra pela frente?
Não é de hoje que Lula estabelece falsas equivalências quando trata do assunto. Em maio de 2022, em entrevista para a revista Time, ele já havia dito as mesmas coisas. Acredita que a guerra não teria acontecido se o ingresso da Ucrânia na OTAN fosse vetado. É uma maneira covarde de culpar a vítima pela violência que sofreu. O presidente é incapaz de reconhecer que existe um agressor e um agredido. Foi a Rússia, afinal, quem mobilizou seu poder bélico promover uma verdadeira blitzkrieg em território ucraniano. De modo que apenas um país decidiu ir para a guerra.
Se há da parte da Ucrânia interesse em entrar para um organismo de defesa ocidental não é com o objetivo de ameaçar ou atacar um país vizinho, mas para evitar que isso aconteça consigo, exatamente como se dá nesse exato momento. A Rússia tem um longo histórico de invasões ao território ucraniano, inclusive da Crimeia, que foi tomada ainda em 2014 numa incursão militar de alta escala. Os países que compunham o antigo bloco soviético sabem muito bem o que é estar sob o julgo de Moscou, e por isso buscam socorro na Europa e nos Estados Unidos.
Sob o pretexto de uma falsa neutralidade, o governo brasileiro virou caixa de ressonância da mais abjeta propaganda russa.
O que significa quando Lula fala que “Zelensky não toma a iniciativa de paz”? O presidente brasileiro quer que ele pare de defender seu próprio país? É uma proposta aviltante, grotesca e hedionda. Sob invasão não motivada, a resistência é dever. E ela vem sendo exercida com destemor. Sem auxílio do ocidente (demonizado por Lula), Kiev já estaria em posse das forças russas, fazendo da Ucrânia um Estado fantoche na sanha expansionista de Putin. A isso o petista chama de “dar contribuição para a continuidade desta guerra”.
No Brasil, Lavrov se mostrou muito à vontade. Quando chegou, usava um look despojado, com casaquinho, jeans e tênis. Parecia estar aproveitando um dia de folga na casa de praia de amigos. Chegou até a falar em nome do Itamaraty, dizendo que Rússia e Brasil tinham uma “visão única” do conflito. Ao que parece, nossa diplomacia foi terceirizada para o Kremlin.
Os resultados do ataque à Ucrânia só ressaltam a natureza desumana de seus propósitos. É uma guerra de aniquilação que formou um êxodo sem precedentes no Leste Europeu, com bombardeios constantes em áreas civis, incluindo escolas, hospitais e infraestrutura básica usada pela população. O ativista Vladimir Kara-Murza, aliás, foi sentenciado pelo regime putinista exatamente por denunciar internamente esse tipo de atrocidade.
O fim da destruição depende única e exclusivamente de Putin, a quem cabe mandar retirar suas tropas de território alheio. Só então será possível partir para as negociações. Ou Lula quer o quê? Que Zelensky não revide enquanto o exército invasor destrói tudo o que encontra pela frente? É o mesmo que propor a prostração e o suicídio de uma nação. Numa situação dessas, não há equiparação possível que não resulte em relativismo moral. Sob o pretexto de uma falsa neutralidade, o governo brasileiro virou caixa de ressonância da mais abjeta propaganda russa.
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