Para onde pende o coração dos bolsonaristas? Até pouco tempo atrás, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, era o favorito de quase todos. Mas aí surgiu Pablo Marçal e os arrebatou. Isso porque, já escrevi aqui, o ex-coach representa a “retomada de um espírito original, que, pelas circunstâncias, acabou sendo colocado em segundo plano pela família Bolsonaro”. Nada de conciliação com outros políticos, nada de alianças, nada de institucionalização. A força motriz que mantém o bolsonarismo mobilizado é a ideia de rejeição ao eles chamam de “sistema”.
Ao contrário de Marçal, que se estabeleceu na disputa pela prefeitura de São Paulo como aquele que se opõe a “tudo o que está aí”, Tarcísio é o pragmático disposto a construir pontes em nome de objetivos políticos de longo prazo. No último dia 4, em uma inserção na propaganda eleitoral do candidato Ricardo Nunes, ele apareceu dizendo que Marçal era a “porta de entrada para Boulos”. Segundo o governador, se o candidato do PRTB for ao segundo turno contra o psolista, tem maior chance de ser derrotado. Para Tarcísio, Nunes fora é pior cenário possível, inclusive para seus planos em 2026.
O ex-coach reivindica para si o que seria o bolsonarismo raiz. Parte considerável desse eleitorado já o identifica como tal, e ele sabe disso.
Até aqui, o conflito entre Tarcísio e Marçal era indireto. Mas o governador de São Paulo parece cada vez mais decidido a usar a força de seu mandato e sua influência de modo a desequilibrar a balança em favor do atual prefeito. Antes disso, já havia dito que, numa eventual disputa entre Marçal e Boulos, anularia o voto. E isso já fez o ex-coach mudar de comportamento.
Em entrevista para o UOL, Marçal disse que Tarcísio é uma “criatura feita pela transmissão de votos”. Também disse, durante um ato de campanha, que se disputasse o Planalto, Tarcísio não daria “conta de concorrer” com ele.
Em meio à crispação crescente, Jair Bolsonaro vem mantendo uma posição no mínimo dúbia. E isso se dá exatamente porque ele sabe que ao rejeitar totalmente Marçal, pode comprometer a integridade de sua base, já bastante incomodada com Nunes. Ainda que não tenha se afastado oficialmente do atual prefeito, Bolsonaro trabalha nos bastidores para enfraquecê-lo. Inclusive instando Tarcísio a se afastar. O próprio governador teria dito a apoiadores mais próximos que o ex-presidente disse que seu apoio Nunes equivaleria a um “atestado de óbito” político.
Ainda ao UOL, Marçal disse que tem representado a “frente do conservadorismo”, que, segundo ele, “não tem dono” e ainda aproveitou para ameaçar o governador: “É melhor você defender o banana sem falar do homem de ferro, porque senão vai dar problema pra você”, disse. O ex-coach reivindica para si o que seria o bolsonarismo raiz. Parte considerável desse eleitorado já o identifica como tal, e ele sabe disso. Tanto que já se sente à vontade para liderar expurgos ideológicos. E, a depender do resultado da eleição, nem Tarcísio passará incólume.
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