O deputado federal Eduardo Bolsonaro na Copa do Mundo.| Foto: Reprodução/ Twitter
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Mais do que o cidadão que se prendeu na frente de um caminhão, mais do que os militantes fazendo sinalizações luminosas para extraterrestres, mais do que as marchinhas militares desengonçadas protagonizadas por senhoras e senhores, talvez a imagem que melhor simbolize o bolsonarismo pós-derrota eleitoral seja a do deputado estadual eleito Tomé Abduch encharcado e debaixo de chuva enquanto olha resignado para alguém servindo um sopão em uma das manifestações antidemocráticas.

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Ainda que com os olhos voltados para a comida, Abduch aparece na foto alheio ao ato em si. Como se o prato fosse apenas uma tela na qual ele estivesse a projetar seus desejos e idealizações. Talvez o sonho de uma intervenção capaz de impedir o resultado das urnas. Mas eis que os tanques e os coturnos imaginários se desvelaram em meio ao aguaceiro apenas como pedaços de cenouras e batatas a boiar no caldo ralo do golpismo.

Permanentemente alimentados com conspirações das mais variadas compartilhadas nas redes sociais, setores da sociedade passaram a acreditar em qualquer coisa que dê amparo ou sustentação ao seu ímpeto de impedir o que seria uma nova intentona comunista.

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Ninguém no alto escalão do bolsonarismo tem qualquer expectativa de que a contestação da eleição resulte em uma ação prática das Forças Armadas. A transição de governo prossegue e a diplomação de Lula já foi marcada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mesmo assim, há um sentimento de expectativa que continua sendo alimentando pelo discurso político e que mantém um grupo de pessoas permanentemente em vigília na frente dos quartéis.

Que se aguardem 72 horas até nada. E depois disso mais outras 72 horas, tempo ao qual, uma vez encerrado, seguirão outros de mesma duração sob qualquer justificativa. Afinal, algo está acontecendo. Uma movimentação de bastidor que apenas alguns teriam acesso, mas que nunca é detalhada. “Em breve”, “aguarde”, “lute”, “confie no capitão”, “não esmoreça”, é o que se ouve e o que se lê por aí.

Suscetíveis à desinformação e permanentemente alimentados com conspirações das mais variadas compartilhadas nas redes sociais, setores da sociedade passaram a acreditar em qualquer coisa que dê amparo ou sustentação ao seu ímpeto de impedir o que seria uma nova intentona comunista, dessa vez liderada por Lula e Geraldo Alckmin. O caso de Eduardo Bolsonaro no Catar é emblemático.

Flagrado curtindo a Copa do Mundo, inclusive aparecendo sorridente para fotos, o filho 03 de Bolsonaro gravou um vídeo dizendo que naquele país “não se fala só em Copa do Mundo”, e que teria levado pen drives com “vídeos em inglês explicando a situação do Brasil”.

Entre um jogo da seleção e uma turistada, eis que o deputado se apresenta agora como em missão sigilosa pelo Oriente Médio. Muitos se encontram em alheamento da realidade tão profundo que não terão alternativa a não ser fazer a devida genuflexão ideológica como pedido de desculpas por eventuais críticas precipitadas. E, claro, voltar para fila do sopão, logo atrás do Tomé Abduch, que continua parado em estado de abstração, olhando para aquele caldo escorrendo da concha no prato como se fosse um desfile militar triunfante contra o STF.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]