Donald Trump começou a perder o último debate presidencial das eleições americanas logo ao entrar no palco do National Constitution Center, na cidade de Filadélfia. Chamados pelos moderadores, o republicano e sua adversária democrata, a vice-presidente Kamala Harris, de imediato mostraram as condutas que teriam ao longo de todo o encontro. Enquanto Trump se dirigiu diretamente ao seu púlpito, Harris foi, com passos decididos e rápidos, até seu encontro para cumprimentá-lo. De certa forma, surpreendeu o magnata, que não parecia disposto a fazer qualquer gentileza. Harris tomou a iniciativa desde aquele momento, pressionando o ex-presidente inclusive nos temas em que, teoricamente, ele teria vantagem.
A estratégia da democrata contou com a colaboração ativa do próprio republicano, que, aos poucos, foi enveredando pelo caminho do histrionismo até chegar ao freak show explícito. O mais surpreendente é que ele mesmo se conduziu a essa posição. Em determinado momento, falando sobre o caos imigratório nos Estados Unidos e as responsabilidades do governo de Joe Biden e Harris em lidar com o problema, afirmou que “Em Springfield, eles (os imigrantes) estão comendo os cachorros. Eles estão comendo os gatos. Comendo os pets das pessoas que moram lá”. Foi desmentido de pronto pelos jornalistas que apresentavam o evento.
É sintomático que tenha sido no tema imigração, no qual Harris tem responsabilidade direta, que Trump tenha se saído com a declaração que eclipsou todo o restante da discussão
Após o debate, republicanos reclamaram da moderação e acusaram a ABC News de jogar em conluio com Harris. “Foram três contra um”, disseram muitos. Ainda que, de fato, correções tenham sido feitas apenas ao republicano e a emissora seja notadamente progressista, Trump também jogou contra si. E foi ele, mais do que sua adversária e os moderadores, que contribuiu fundamentalmente para que tivesse uma péssima noite.
É sintomático que tenha sido no tema imigração, no qual Harris tem responsabilidade direta, que Trump tenha se saído com a declaração que eclipsou todo o restante da discussão. Ao invés de apresentar os dados de violência e os casos notificados e noticiados de assassinatos cometidos por imigrantes sem documentação, ele preferiu balizar sua crítica numa informação que não tem comprovação. E que, mesmo se tivesse ocorrido, nem de longe representaria o principal problema no contexto das fronteiras.
Ao final, quem teve de se justificar sobre o problema nas fronteiras não foi Harris, que foi nomeada por Biden para a função, mas Trump, que poderia ter se sobressaído apontado a evidente incompetência dos democratas. Pagou o preço de, ao invés de dialogar com independentes, se afundar na própria bolha ideológica.
Enquanto o republicano praticava a autossabotagem, sua concorrente sorria em deboche. Em outra situação, a performance da concorrente, com suas caras e bocas até poderia se voltar contra ela. Mas não nesse caso. Exatamente porque Trump monopolizava a bizarrice. As expressões dela também eram as expressões do público. Imediatamente após o fim do programa, Trump se autoproclamou vencedor. Em uma mensagem em sua rede social, anunciou que não participará de um novo encontro com Harris. Um erro oriundo de sua histórica incapacidade de admitir erros. No debate da ABC, Trump perdeu para si mesmo. E não surpreenderá se, por isso mesmo, entregar a eleição de bandeja para sua adversária.
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