O campo antipetista não gostou da indicação de Paulo Pimenta para ser ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul. E nem poderia ser diferente, já que se trata de um dos quadros mais tradicionais do partido no estado. Mas ninguém pode se dizer surpreso. Ou se tinha a expectativa de que Lula indicaria para a função um adversário político? Por certo, o escolhido não seria Onyx Lorenzoni, nem alguém alinhado ao tucanato gaúcho. O presidente preferiu, obviamente, alguém de sua estrita confiança e que conhecesse a área atingida.
Comentei para a Gazeta do Povo que Lula, como bom articulador, conseguiu fazer um movimento com efeito duplo. Tirou Pimenta da Secretaria de Comunicação, onde era muito questionado e cumulava atritos com Janja da Silva, e colocou numa função relevante, ainda mais considerando a conjuntura atual e o efeito dela na estratégia eleitoral para 2026. O ministro, afinal, é tido como o principal nome do PT para o governo do Rio Grande do Sul. Qualquer mudança que não lhe desse o mínimo destaque seria tido como desprestígio.
Parece que chegamos no tempo em que políticos não podem mais fazer atos de natureza política. E isso vale para Lula, Eduardo Leite e qualquer outro prefeito que vá concorrer à reeleição.
Ao assumir a tarefa de “autoridade federal” no Rio Grande do Sul, Pimenta ganha uma caneta poderosa. Será ele o encarregado de canalizar os preciosos recursos federais para áreas atingidas. Ganha status na medida em que intermediará interesses, mas também a responsabilidade de ser efetivo no pior momento da história do estado.
Os adversários do PT acusaram o governo de, com isso, politizar a tragédia climática. Em entrevista para a revista Veja, o deputado federal Aécio Neves, correligionário de Eduardo Leite no PSDB, disse que Lula abdicou do “papel de estadista”. “Um tiro no pé do presidente que vai custar caro aos gaúchos e a ele próprio no futuro”, disse. O presidente da legenda, Marconi Perillo, viu a nomeação com “estranheza”.
Dentro do ninho tucano, houve até quem pensasse em questionar juridicamente a decisão de Lula. O que não teria o menor cabimento. É ato discricionário legítimo do presidente, independente da qualidade do escolhido. Leite, que costuma ser mais discreto e elegante, foi por outra linha. Não rejeitou de público a posição de Pimenta, com quem terá de ter boa relação, mas imediatamente tratou de criar uma pasta com função semelhante em nível estadual. Designou Pedro Capeluppi, que já ocupava um cargo no Executivo estadual, para comandar a Secretaria de Reconstrução do Rio Grande do Sul. Com isso deixa dois recados: o de que o secretário trata com o ministro e de que não há intervenção branca no estado.
Parece que chegamos no tempo em que políticos não podem mais fazer atos de natureza política. E isso vale para Lula, Eduardo Leite e qualquer outro prefeito que vá concorrer à reeleição. Como se fosse possível que cargos eletivos administrassem o Estado por outros meios. É possível fazer o juízo sobre predicados de Pimenta (ou a falta deles) sem incidir na demonização da própria política, o que, ao longo dos últimos anos, mostrou-se outro tipo de tragédia para o país.
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