Em sua maior parte, os liberais brasileiros são de almanaque. Se guiam por um conjunto de chavões, sem qualquer referência real do que essa corrente de pensamento propõe. Acham que tudo se resume a privatizações, diminuição da burocracia e redução de impostos. Ainda que sejam pautas adequadas e bem-vindas, ainda mais em um país periférico e tão ligado ao ideário estatista de salvação nacional. Fato é, entretanto, que a esfera econômica do liberalismo é apenas sua menor parte. Há toda uma tradição legal, institucional e filosófica, construída ao longo de séculos, que passa batida no debate público. E é ela que importa, ainda mais no atual contexto do Brasil.
O país precisa de profundas transformações em sua estrutura de governo, mas o avanço civilizatório mais urgente é o das instituições políticas, que são o alicerce no qual se fundamentam todos os demais possíveis avanços, inclusive os econômicos. É nessa seara que se encontra o grande risco para os próximos anos. O Brasil não se tornará comunista com Lula, nem se tornaria fascista se Bolsonaro fosse reeleito. Esses reducionistas, entretanto, acabaram por pautar um debate eleitoral pífio no qual o Brasil foi posto de lado em nome da guerra fratricida entre dois candidatos que apostaram que venceriam se vendendo como o menos pior.
Há sedizentes liberais que acham que o autoritarismo político é compatível com a liberdade econômica. Estes até topariam uma quartelada para fazer avançar sua agenda e afastar o risco delirante de uma revolução socialista nos moldes cubanos.
Mesmo que o risco de uma ditadura seja inexistente, nossa democracia pode sempre piorar, a depender do rumo das coisas. A instabilidade resultante de um sistema permanentemente desgastado dificulta, quando não impede, a criação de mecanismos de desenvolvimento, inclusive sociais. Os últimos quatro anos foram prova inequívoca disso. Imaginar que se possa diminuir a pobreza e melhorar o ambiente de negócios sem qualificar e aprimorar as instituições é pura ingenuidade, quando não vigarice.
Há sedizentes liberais que acham que o autoritarismo político é compatível com a liberdade econômica. Estes até topariam uma quartelada para fazer avançar sua agenda e afastar o risco delirante de uma revolução socialista nos moldes cubanos. Acham que as instituições democráticas, que são filhas do liberalismo político, representam um obstáculo. Que elas foram tomadas por um espírito antipatriótico. Seria aquilo que, genericamente, chamam de “sistema”.
Se fosse minimamente séria, a elite liberal brasileira estaria buscando revitalizar a tripartição dos poderes e acabar com mecanismos de cooptação como o Orçamento Secreto, que foi criado no governo Bolsonaro e deverá ser mantido no governo Lula. Preferem, entretanto, fazer das Forças Armadas uma instância corregedora da sociedade civil e a Justiça uma mera subordinada do Executivo. Dessa forma, acabam mais próximos de Hugo Chávez do que de John Locke.
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