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Já são mais de duas mil pessoas presas na Venezuela desde a eleição do último 28 de julho, quando Nicolás Maduro se autodeclarou vencedor. Foi o próprio ditador que divulgou o número durante um ato chavista no Palácio de Miraflores. “Temos dois mil presos capturados e eles vão para Tocorón e Tocuvito, com máximo castigo. Justiça!”, gritou para a multidão de apoiadores. Tocorón e Tocuvito, como se sabe, são prisões, que agora abrigam os inimigos do regime. O bolivarianismo já tem até seus próprios gulags.
Mesmo com a falta de transparência e o aumento da repressão, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, quer que uma nova eleição seja realizada. Enquanto os adversários do regime são reprimidos nas ruas e em suas casas, o representante brasileiro traça caminhos alternativos na busca de uma legitimação. Uma proposta notadamente descabida e indecente.
Ao defender um novo pleito na Venezuela, desconsiderando por completo o que aconteceu no último, Amorim consente em favor de Maduro, como se restasse ao títere alguma credibilidade. Para que novas eleições? Para que fossem fraudadas de novo? Para que fossem fraudadas até que a manipulação fosse minimamente consistente e permitisse ao governo petista fazer o que parte da esquerda e o PT desejam ardentemente: anuir com a ditadura de extrema esquerda?
A posição brasileira, até então conivente e pusilânime, vai descambando para a vilania
Que garantias Maduro poderia oferecer senão aquelas mesmas que já foram empenhadas outrora no moribundo Acordo de Barbados, no qual o governo brasileiro dispendeu esforço na ridícula esperança de ver uma ditadura cumprir um rito legal? Essa “segunda chance” seria equivalente a constar definitivamente com um modus operandi chavista que utiliza uma carapaça institucional para maquiar o regime de arbítrio.
Desde que foi despachado pelo presidente brasileiro para a Venezuela, Amorim virou uma espécie de avalista informal do processo eleitoral no país. Não que ele tivesse qualquer habilitação técnica para tanto. É um agente político, não um especialista em tecnologia da informação. Seria incapaz, portanto, de atestar a idoneidade do sistema ou os resultados, ainda que o regime tivesse cumprido a própria lei fornecendo as tais atas. E isso, por si, deveria bastar para que não fosse tomado como autoridade no assunto. Amorim, entretanto, é a figura mais influente da diplomacia brasileira. Isso porque ele representa o pensamento de Lula.
É suficientemente estarrecedor que se tenha dado de barato que os tais organismos jurídicos da Venezuela teriam qualquer postura independente ou pudessem garantir equilíbrio e equidade de condições entre os integrantes do regime e seus oposicionistas. O Conselho Nacional Eleitoral, a Procuradoria da República e a própria Justiça são aparelhos do governo, que, por sua vez, são controlados pelos militares. E estes já ofereceram suas baionetas em fidelidade ao ditador. A posição brasileira, até então conivente e pusilânime, vai descambando para a vilania. Uma fraude diplomática que se equipara em malícia até mesmo com a fraude eleitoral bolivariana.