A volta de Lula ao poder se deu sob um contexto político muito distinto daquele que ele conhecia quando encerrou seu segundo mandato, no já longínquo ano de 2010. O petista estava no auge de sua popularidade e havia eleito sua sucessora com relativa facilidade. A oposição não era organizada e os movimentos conservadores ainda não tinha ganhado massa crítica. As redes sociais engatinhavam e a relação entre os poderes obedecia a uma lógica de primazia do Executivo, que ditava a agenda legislativa usando cargos e verbas. Esse Brasil acabou, e parte das dificuldades do atual presidente são exatamente pela incompreensão das características políticas do país atual.
Na última semana, o governo comemorou os resultados do PIB do primeiro trimestre de 2024. Os números vieram acima das expectativas do mercado, com uma alta de 0,8%. Valor bastante acima daquele registrado no início de 2023. Nas redes sociais, Lula escreveu que “segundo a previsão do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil subirá mais uma posição, chegando a 8º PIB mundial”. “Mais uma prova de que estamos no rumo certo”, complementou em tom otimista. A população, entretanto, tem tido uma visão crescentemente pessimista, ao contrário do presidente. E isso tem afetado até mesmo seu desempenho pessoal.
As mais recentes pesquisas de opinião traçam um cenário delicado para o petista. O governo é questionado em todas as áreas, com números que se replicam em levantamentos de fontes distintas. O Congresso Nacional, dominado pelo centrão, e que agora detém parte relevante da execução do orçamento, sabe dessa fragilidade e da margem limitada que Lula possui, inclusive para implementar suas bandeiras.
Nesse legislativo, que tem um perfil muito mais de direita do que a média de anos anteriores, só passa o que a hegemonia política da casa entende ser adequado, e o que não conflita com as pautas que o próprio Congresso reivindica como suas. É por isso que vetos de Lula em temas sensíveis são derrubados com facilidade, e mesmo decisões do STF acabam instigando votações ou acelerando matérias flagrantemente contrárias ao sentido do voto dos ministros.
Na outra ponta, o próprio governo tem problemas. Em comparação a mandatos anteriores, Lula é visto como ausente. Parte da agenda e do controle do cotidiano do Palácio do Planalto são exercidos por Janja da Silva, que é primeira-dama mas não por ter sido eleita. Os ministérios responsáveis pela articulação política, como a Casa Civil e as Relações Institucionais são inoperantes, com seus titulares questionados publicamente pelas lideranças congressuais, principalmente Arthur Lira, o poderoso presidente da Câmara dos Deputados. A comunicação é trôpega, e incapaz de vender realizações ou mesmo de responder críticas, estas difundidas por uma oposição bolsonarista firmemente organizada na internet.
No Brasil de 2007, de 2008 e 2009, os números do PIB talvez fossem suficientes para construir uma popularidade robusta para o presidente. Hoje são fato quase irrelevante no debate púbico, moldado por uma realidade política mais rarefeita. Ao invés de ver um presidente vitorioso em cima do crescimento, a percepção de parte considerável da população é que Lula chega na metade do mandato se arrastando e refém de um Congresso que manda muito mais do que ele.
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