Profundamente irritado com a matéria da Folha de São Paulo sobre a troca do comando da Polícia Federal, Jair Bolsonaro foi até o cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada nesta terça-feira (5/5) pela manhã. Aos berros, mandou os jornalistas presentes calarem a boca.
A postura aparentemente descontrolada do presidente tem sentido estratégico e efeito direto na militância política que o apoia. Ela toma essa postura agressiva como uma orientação de conduta e passa replicá-la. O efeito é o recrudescimento não apenas da violência retórica mas também da violência física.
É fato, e não matéria de opinião, que nos últimos tempos, apoiadores do presidente passaram a ter uma postura ainda mais agressiva, protagonizando episódios reiterados de agressões em atos públicos.
No último dia 19 de abril, apoiadores do presidente apareceram atacando um casal. Uma mulher chegou a ser atingida com um soco na orelha.
Mais recentemente, no dia 1° de maio, profissionais de saúde que se manifestavam silenciosamente em Brasília, também foram alvos da brutalidade desse tipo de militante.
O responsável pela agressão, alias, é Renan da Silva Santos, um funcionário terceirizado que, ironicamente, trabalha no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
No mesmo final de semana, mais precisamente no último domingo, dia 3 de maio, repórteres que fotografavam o presidente, e estavam em meio a multidão de apoiadores do mandatário, tiveram de sair do local escoltados após se envolverem em uma confusão com possíveis agressões.
O procurador-geral da República Augusto Aras, que foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro, determinou ao Ministério Público do Distrito Federal que investigue o episódio.
Ao mesmo tempo em que alguns militantes já partem para as vias de fato, outros clamam por medidas como AI-5 e intervenção militar. A esses, Bolsonaro prestigia com seu apoio, inclusive da forma como se viu no dia do Exército.
Ainda que a radicalização esteja em curso, não há coordenação entre seus protagonistas. Estes são movidos pelos "apitos de cachorro", que são sinalizados a partir do Palácio do Planalto.
Há, entretanto, quem deseje uniformizar uma ação mais ampla e de caráter revolucionário.
É o caso de Sara Winter, ex-ativista de extrema esquerda que, subitamente, se disse convertida ao que ela chama, ao que ela entende por "conservadorismo". Em seu Twitter ela vocaliza o desejo de "ucranizar". Ucranizar o Brasil. É uma referência a onda de manifestações que ocorreram no país do leste europeu e que levaram a queda de Víktor Yanukóvytch, presidente que tentava uma aproximação com a Rússia.
Recentemente, Sara Winter utilzou seu Twitter para escrever o seguinte: "Temos que usar a inteligência. Chegou a hora de cooptar as forças de coerção. Se você tem irmão, filho, primo, marido, ou conhece um policial militar, convença-os todos os dias de que ele será mais uma vítima como nós. Temos que trazer todos para o nosso lado".
A linguagem não é ambivalente e nem deixa margem para dúvidas. O que ela propõe é a criação de um grupo paraestatal com força militar. Um Femen de farda para policiar a política e a sociedade.
É gente movida pelo espírito, pela missão, pela cruzada de "salvar o país". E é exatamente por isso que manifestações oficiosas e notinhas de repúdio acabam sendo alvo de piada, de escárnio, de escracho. Não são adequadas para o momento e significam uma incompreensão do que está acontecendo.
Se não tratarmos a coisa pelo que ela de fato é, ou seja, uma corrente crescente de autoritarismo que é perigosa, nós continuaremos a franquear a invasão vertical e horizontal dos bárbaros.
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