É mais do que evidente que Edmundo Gonzáles é o presidente eleito de direito da Venezuela. É improvável, entretanto, que tome posse. Nicolás Maduro continuará no poder. Partícipes do regime, as Forças Armadas são suas fiadoras. Ainda que Gonzáles tenha divulgado um pronunciamento reivindicando sua legitimação constitucional pelos militares, não passou de uma brutal ingenuidade. Não há dissidência, nem qualquer divisão, que dê aos opositores esperança de receber tal apoio. E, sob essa perspectiva, é possível dizer que o ditador bolivariano venceu.
Em resposta ao chamado da oposição, o general Vladimir Padrino, que ocupa o posto de ministro da Defesa, tratou de divulgar o comunicado da tropa, em que as Forças Armadas venezuelanas ratificam sua “absoluta lealdade ao cidadão Nicolás Maduro”, considerado por elas como “legitimamente reeleito pelo poder militar”. O nível de infiltração ideológica do chavismo no aparato militar é de tal envergadura que já não se consegue distinguir o que é Exército do que é governo. E o mesmo se dá com o restante das “instituições do país”.
Tanto o tal Conselho Nacional Eleitoral, responsável pela administração das eleições, quanto a Procuradoria Geral, que seria uma espécie de Ministério Público, não passam de apêndices do regime controlados por fiéis subalternos de Maduro. A própria Justiça foi tomada, e já de muito tempo, quando Hugo Chávez destituiu os ministros substituindo-os por lacaios. A democracia (que não é relativa) só existe na Venezuela como roupagem para tentar suavizar uma repressão brutal, dando a ela uma carapaça de legitimidade.
Alguém na diplomacia do governo petista realmente acreditava que o regime autoritário cumpriria regras acordadas e permitiria um processo eleitoral transparente e com paridade de condições? A ditadura chavista ganhou o beneplácito da credibilidade, instrumento necessário para que esta simulasse uma eleição cuja vitória da oposição seria impossível.
O ditador perdeu no voto, mas se impôs com as armas
Clamar pela “entrega das atas”, como faz Celso Amorim, é dar sequência a uma fraude que vai além da manipulação dos resultados e do silêncio informativo imposto pelo CNE sob desculpas tão risíveis quanto típicas de tiranias.
Sob a custódia dos próprios interessados em permanecer no poder ilegalmente, provas de uma vitória de Maduro careceriam de qualquer credibilidade, mesmo que viessem a ser apresentadas. Elas já não importam mais. E o tempo conta a favor do ditador. À medida que se prolonga o impasse, diminui qualquer margem de negociação e aumenta o risco para as lideranças oposicionistas, que vão sendo perseguidas, presas e sequestradas.
É errada a percepção de que Maduro está isolado. Além do apoio interno dos militares, ele conta com o reconhecimento do eixo das autocracias, liderado pela China e pela Rússia. Na geopolítica global, é estratégico que um regime como o dele seja mantido e financiado exatamente na zona de influência dos Estados Unidos. Os recursos vindos destes países compensam as sanções das potências ocidentais e dão a garantia de que Maduro pode continuar confortavelmente no poder, independentemente de ser eleito.
Cedo ou tarde, o mundo deixará de prestar atenção no que ocorre na Venezuela. Será a janela para o endurecimento da opressão contra os opositores e dirigentes de oposição. No cenário atual, é impensável uma ação militar externa para depor Maduro, tampouco uma renúncia negociada com base em diplomacia. O ditador perdeu no voto, mas se impôs com as armas.
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