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| Foto: Reprodução/Facebook

Jair Bolsonaro é um péssimo líder. Até para os seus. Os mais fanáticos apoiadores dele talvez nunca digam isso de público, mas sabem que se trata de um fato a assombrar suas almas. Desde que foi derrotado nas urnas, o futuro ex-presidente preferiu se homiziar no Palácio da Alvorada, deixando de lado a agenda pública e os compromissos oficiais. Além de nunca reconhecer o resultado da eleição, deixou de lado as próprias funções, encerrando seu mandato de forma prematura e extraoficial. Virou um espectro, visto de relance apenas quando flagrado por lentes curiosas de cinegrafistas ávidos por descobrir o seu real paradeiro.

Imerso na melancolia, Bolsonaro optou pelo silêncio na esperança de que um movimento protagonizado por seus apoiadores ganhasse massa crítica a motivasse as Forças Armadas a impedir a posse de Lula. Os militantes que se acumularam nas rodovias e também na frente dos quartéis se mobilizaram sob o espírito de uma intervenção, estimulados por notícias falsas, narrativas e propaganda camuflada de análise. O resultado não poderia ser outro que não a erupção da violência política, ilustrada por piquetes, depredações e até uma tentativa de atentado terrorista. Tudo em vão.

Além de nunca reconhecer o resultado da eleição, deixou de lado as próprias funções, encerrando seu mandato de forma prematura e extraoficial

Nas ruas, pegando chuva e dormindo sob o sereno, os crentes na infalibilidade do capitão ungido foram usados enquanto o filho do presidente curtia a Copa do Mundo e outros de seus prosélitos faziam elucubrações sobre bastidores de uma quartelada que nunca aconteceram, ainda que ali e aqui, figuras estreladas da caserna tenham dado piscadelas para a ruptura. Mas tudo não passou de uma ilusão construída pela retórica de quem alimentou o radicalismo e dele se empanturrou em nome de curtidas e falsa relevância.

No penúltimo dia de 2022, Bolsonaro resolveu dar as caras para uma despedida. O teor pesaroso de seu falatório derradeiro precedeu o ato mesquinho e covarde de viajar para os Estados Unidos antes do encerramento formal de seu governo. Algo inédito na história brasileira. Além de não entregar a faixa para o sucessor, passará o final de seu mandato no exterior sem compromisso oficial. Na prática, deixa o cargo por antecipação e abandona os apoiadores que ainda conservavam alguma esperança de uma ação de última hora.

Para além da partida em si, o que dizer de quem escolhe fazer demagogia política em meio ao luto do país pela morte de Pelé? A manifestação do presidente não respeitou nem a consternação nacional, tampouco foi conveniente ante o raro momento em que o mundo presta reverência ao filho da pátria que o encantou desde que pisou nos gramados pela primeira vez. Bolsonaro ficou dois meses em silêncio para falar somente quando todos só queriam ouvir sobre o rei do futebol.

O conjunto de ridicularias e absurdos dá a dimensão do presidente e do que ele entende por democracia e institucionalidade. O banho de realidade sobre seus apoiadores vai produzindo uma infinidade de momentos constrangedores e de memes que nascem automáticos. Gente que vai do desespero ao estado de raiva absoluta. Nesse momento, o avião presidencial cruza o continente rumo aos EUA. Bolsonaro decidiu sair pela porta dos fundos do poder, mandando saudações para os patriotas que ele deixou desamparados e órfãos.

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