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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Operação da PF escancara golpismo incontestável

Jair Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Elaine Menke/PL.)

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A vasta operação da Polícia Federal que teve como alvo o ex-assessor de política internacional do governo Bolsonaro, Filipe Martins, ex-ministros de Estado e membros da alta cúpula militar, é um marco na história republicana do Brasil. É a primeira vez que integrantes das Forças Armadas, incluindo generais reformados e da ativa, são enquadrados numa investigação que não para de escalar e que, a cada nova revelação, se aproxima do ex-presidente Jair Bolsonaro. Historicamente, as Forças Armadas foram protagonistas de diversas intervenções ilegais e rupturas institucionais, nunca tendo seus membros devidamente responsabilizados. Mas esse tempo passou, e as instituições parecem firmes no propósito de dar uma resposta dura aos que tramaram contra elas e a estabilidade democrática.

"Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições", disse Bolsonaro. A patacoada da “fraude nas urnas” sempre foi a força motriz do discurso contestatório, e aqui se estabelece novamente para instigar o que Bolsonaro chamou de “reação”.

Já não há mais espaço para fazer suposições, contemporizar ou mesmo usar advérbios para descrever com margem de dúvida o que se dava nos escaninhos do poder.

O palavreado genérico não pode ser analisado isoladamente. É preciso contextualizá-lo no conjunto das declarações restantes dos que estavam presentes e nas outras ações que foram tomadas até que tudo resultou em fracasso, sobrando a peões radicalizados um ato desesperado de violência no 8 de janeiro. Não existisse um “animus” golpista em curso não haveria minuta de golpe apreendida na casa de Anderson Torres e na sede do PL. Tampouco o ministro do Gabinete de Segurança Institucional se sentira tão à vontade para falar em “virada de mesa”.

Agora se sabe que, até o último momento, militares da ativa e da reserva lotados em cargos políticos buscaram pressionar integrantes das Forças Armadas que não haviam aderido ao movimento antidemocrático a embarcarem na aventura. Sobre estes deve recair o peso da lei, uma vez que feriram o código militar, a hierarquia e seus deveres legais com a Constituição.

A reunião do ex-presidente com seus colaboradores diretos não apenas consolida a linha investigativa de que havia uma tentativa de golpe em curso sendo articulada, mas dá margem para outras. É preciso, afinal, ir a fundo no papel da Abin, já envolta em suspeição no caso da espionagem ilegal que teria sido coordenada pelo deputado Alexandre Ramagem quando diretor dela. Durante a reunião, agora tornada pública por decisão do Supremo Tribunal Federal, o general Augusto Heleno chegou a dizer que pretendia infiltrar agentes nas campanhas eleitorais. É uma declaração gravíssima e que não pode passar batida, ainda mais considerando o que já se conhece sobre institucionalização da arapongagem.

Poucas horas depois das prisões e das buscas e apreensões, o senador Hamilton Mourão, ex-vice de Bolsonaro, subiu à tribuna do Senado para conclamar seus colegas de caserna: “No caso das Forças Armadas, os seus comandantes não podem se omitir perante a condução arbitrária de processos ilegais que atingem seus integrantes ao largo da Justiça Militar”, disse. Acusado de incitação, tergiversou dizendo ser um “legalista”. É evidente, entretanto, que tratou de relativizar a gravidade das acusações e do material que consubstanciou a operação. Não surpreende, uma vez que é o responsável pelo projeto que pretende anistiar os criminosos que vandalizaram a sede dos Três Poderes.

Já não há mais espaço para fazer suposições, contemporizar ou mesmo usar advérbios para descrever com margem de dúvida o que se dava nos escaninhos do poder ao longo da segunda metade de 2022. O conjunto probatório, incluindo conversas por aplicativo, vídeos e até mesmo documentos apreendidos, tendo como fonte a delação premiada de Mauro Cid, dá materialidade incontestável ao plano golpista que visava manter Bolsonaro no poder ao arrepio do resultado das urnas.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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