“Ele é um retardado mental’, disse Pablo Marçal (PRTB) sobre Carlos Bolsonaro. O filho 02 de Jair Bolsonaro havia publicado uma longa mensagem em suas redes sociais convocando os eleitores paulistanos a não votarem nem em Ricardo Nunes (MDB) e nem no coach, mas em Marina Helena (Novo). A reação de Marçal vem na sequência de uma longa troca de ataques, inclusive com o ex-presidente, que o esnobou num comentário feito no Instagram e chegou a dizer que lhe faltava caráter. O era um racha político virou uma verdadeira guerra interna dentro do bolsonarismo.
O desempenho de Marçal no debate da TV Bandeirantes, em que apareceu polemizando com José Luiz Datena (PSDB), Tábata Amaral (PSB) e, especialmente, Guilherme Boulos (PSOL), ajudou a consolidar sua influência em parte considerável do eleitorado bolsonarista, desgostoso em ter de votar no atual prefeito da cidade. Nem mesmo Bolsonaro ficou totalmente satisfeito, e já deixou isso claro ao público. Em uma entrevista recente, chegou a dizer que Nunes não era o “candidato dos sonhos”, mas que iria “ajudá-lo onde for possível”. O apoio do PL a Nunes foi costurado por Valdemar da Costa Neto numa coligação de longo espectro, balizada no mais puro pragmatismo político. Marçal soube identificar nesse descontentamento uma oportunidade.
Em um excelente artigo para a Gazeta do Povo, Paulo Cruz descreveu Marçal como um “retórico habilidoso, oriundo do universo neopentecostal brasileiro” que, “com seu discurso ousado, triunfalista e que não mede consequências no enfrentamento de seus adversários”, acabou encontrando o “caminho para o coração dos eleitores de Bolsonaro”. De certa forma, o coach é uma representação ainda mais pura do espirito disruptivo de parte desse eleitorado.
Ao contrário deles, o coach não tem amarras, não tem limitações partidárias, não precisa conciliar interesses com aliados em partidos diferentes
Jair Bolsonaro e seus filhos nunca foram outsiders, como falsamente se buscou convencionar na campanha de 2018. Mesmo galvanizando o sentimento antiestablishment, que cresceu no país na esteira do lavajatismo, eles sempre se mantiveram com ao menos um pé fixado na política tradicional. A partir da metade de seu mandato, forçado pelas denúncias e pelo isolamento no Congresso Nacional, a aproximação do então presidente com o centrão fisiológico de Arthur Lira e Ciro Nogueira consolidou o que poderia se chamar de “institucionalização do bolsonarismo”.
Marçal representa a retomada de um espírito original, que, pelas circunstâncias, acabou sendo colocado em segundo plano pela família Bolsonaro. Ao contrário deles, o coach não tem amarras, não tem limitações partidárias, não precisa conciliar interesses com aliados em partidos diferentes. É o aventureiro anabolizado pela comunicação em rede. Um sujeito que se especializou em moldar a retórica para induzir estímulos no público. Seu vídeo mostrando a carteira de trabalho para Boulos cumulou rapidamente mais de 40 milhões de visualizações.
A família Bolsonaro se move contra Marçal pelo medo de perder seu monopólio sobre a extrema-direita. Ao contrário de outros candidatos, do jornalismo e de certa intelectualidade, que ainda não compreenderam Marçal e o motivo de sua rápida ascensão, Jair Bolsonaro e seus filhos sabem muito bem do que se trata, e de quais são os riscos envolvidos. Até aqui, seus esforços para frear o coach foram inúteis. Os bolsonaristas continuam trocando as arminhas pelo M.
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