Paulo Guedes não está prestigiado. Nessa última quarta-feira (23/9), foi submetido a um novo vexame público. Em uma coletiva de imprensa após a reunião entre integrantes do governo e da articulação política no Congresso Nacional, foi conduzido para longe dos microfones pelo General Luiz Eduardo Ramos. Após a fala de Ricardo Barros, que é líder do governo na Câmara, Guedes se pôs a falar, para surpresa de seus pares. Era visível o constrangimento com a situação.
Ramos esperou o colega terminar o raciocínio para imediatamente colocar as mãos em seus braços levando-o a passos rápidos junto com o grupo governista. Tudo o que Paulo Guedes conseguiu fazer foram caretas e dizer que “agora tem articulação política”.
A cena é o retrato da atual situação de Guedes no governo. Principalmente pela completa falta de manejo político. Uma operação de contenção de danos foi criada em seu entorno de maneira a evitar declarações atravessadas que inviabilizem projetos importantes ou causem danos na relação com o Legislativo. O Posto Ipiranga, que tinha carta branca, agora está sob intervenção militar.
O ministro da Economia vem num processo paulatino de enfraquecimento. Ao longo dos últimos meses perdeu nomes importantes de sua equipe, incluindo Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro, Caio Megale, ex-secretário de Fazenda, Salim Mattar, ex-secretário de desestatização, e Paulo Uebel, ex-secretário da desburocratização.
As saídas dos últimos dois foram cercadas de polêmicas. Salim Mattar criticou os problemas e a demora na realização de privatização, e Uebel reclamou da falta de andamento da Reforma Administrativa (que depois veio a ser apresentada aos retalhos).
Mas foi a recente polêmica do natimorto Renda Brasil que realmente gerou o maior desgaste. Era Paulo Guedes quem liderava o esforço de criação do programa social que substituiria o auxílio emergencial a partir de 2021. Pela necessidade do momento e visando a popularidade, é importante para o governo manter um benefício continuado de maneira a amparar um segmento amplo da população que está sem renda.
E, apesar de aquilo que é pago hoje ser fiscalmente insustentável no médio e no longo prazo, o fato é que mesmo com eventuais ajustes nas faixas de renda assistidas e a diminuição do valor distribuído, ainda será necessária uma quantidade considerável de recursos para manter sua vigência. Mas da onde tirar dinheiro em um orçamento tão comprometido, tão asfixiados por despesas?
A primeira solução encontrada pelo Ministério da Economia foi propor cortes em outros programas sociais. Para dar vida ao Renda Brasil, cogitou-se o fim do abono salarial, do Farmácia Popular e das deduções do Imposto de Renda. Bolsonaro não gostou nem um pouco. Mandou o projeto de volta e criticou seu conteúdo publicamente, cunhando uma frase que já se tornou notória: “Não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos”.
Emperrada na solução do problema, a equipe de Guedes resolveu sondar a opinião pública e o ambiente político por meio de um vazamento. O dinheiro do novo programa social viria com a economia gerada pelo congelamento de aposentadorias e pensões. A informação se espalhou pelo noticiário, causando a fúria de Bolsonaro, que veio a público reafirmar sua frase sobre pobres e paupérrimos, acrescentar que daria um cartão vermelho a quem lhe propusesse tal coisa e dar por encerrada a discussão sobre o Renda Brasil.
Restou a Guedes a vergonha de correr para dizer que o tal cartão vermelho não era pra ele. Mas o fato é que era. Não se tratava de uma demissão do cargo de ministro, mas uma demissão da responsabilidade de criar o programa. Bolsonaro deslocou essa função para o Congresso. Mais especificamente para o senador Marcio Bittar, relator do orçamento.
Como se não bastasse o festival de trapalhadas, Guedes também virou um obstáculo para a interlocução com Rodrigo Maia, que comanda uma das casas do Congresso Nacional.
Ambos têm péssima relação e o Ministro da Economia chegou a determinar que seus secretários não falassem com o presidente da Câmara dos Deputados. Para articular as reformas, Maia precisou passar a ter contato com o ministro Ramos. Maia fala com Ramos para que Ramos fale com Guedes e a equipe econômica. Produziu-se um verdadeiro telefone sem fio entre o Legislativo e o Executivo.
Isolado politicamente, esvaziado de atribuições e policiado por colegas para não dar com a língua nos dentes, o Paulo Guedes de hoje é bem diferente daquele que foi visto na famosa e hedionda reunião ministério de abril. Na oportunidade, deu pito nos generais que integram o governo, atacou ministros desenvolvimentistas e se gabou de ler John Keynes três vezes no original. Era ainda superministro. Agora precisa de uma babá de coturno a vigia-lo. Foi reduzido a uma potencial fonte de problemas, um verdadeiro estorvo.
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