Ouça este conteúdo
É inequívoco que se criou o clima adequado para a redução da taxa de juros no Brasil. E isso não se deu pela gritaria de Lula ou de petistas estridentes, tampouco pelos ataques feitos a Roberto Campos Neto, mas sim pela conjuntura econômica que foi sendo construída por agentes diversos, incluindo o Ministério da Fazenda e o próprio Banco Central. Este último, aliás, ao usar os instrumentos disponíveis para proteger a moeda, acabou ajudando o governo petista, que agora vê os indicadores inflacionários se reduzirem ao mesmo tempo em que se elevam as projeções de crescimento.
As atas do Comitê de Política Monetária, que descreviam um cenário realista e preocupante para o país foram tomadas por alguns como panfletos a serviço de um suposto bolsonarismo residual encastelado no BC. Nada mais falso. Ainda em fevereiro escrevi nesta coluna que o pragmatismo de Roberto Campos Neto e sua postura indiferente à pressão liderada por Lula se converteu no pretexto para que o “lulopetismo partisse para o ataque”, inclusive com radicais de esquerda queimando sua imagem durante manifestações convocadas por centrais sindicais. Ora, se as reiteradas decisões do BC tivessem natureza política, porque a elevação dos juros se deu exatamente no último ano de governo Bolsonaro?
A condução técnica do Banco Central não apenas não é oposicionista como ajuda o Brasil a ficar muito distante da argentinização vaticinada por catastrofistas e outros propagandistas do caos
O aperto monetário sempre foi uma resposta ao contexto econômico conturbado, seja exterior ou interno. Quando há falta de política fiscal, faz-se necessária a política monetária. As condições da economia brasileira se deterioraram na esteira da crise da pandemia e também nos furos reiterados na lei do teto de gastos pelo antigo governo, o que acabou levando ao início de uma severa ascensão da Selic, muito antes, aliás, do próprio Federal Reserve agir para conter a inflação americana.
Em matéria elogiosa ao trabalho de Campos Neto publicada essa semana, a Bloomberg aponta que o Brasil liderou uma “blitz de aumento de juros” na América Latina, e que agora caminha para iniciar um processo inverso, novamente em antecipação aos Estados Unidos e a União Europeia. Segundo a emissora, a atenção e cuidado do presidente do BC brasileiro é resultante e consequência da antiga cultura inflacionária que devastou o país até o advento do Plano Real.
Para além da retórica política, que passou longe do ministério da Fazenda (e isso é fato incontestável), o governo Lula atuou efetivamente para dar resposta aos alertas feitos pelo BC. O novo arcabouço fiscal, em fase final de votação no Congresso Nacional, foi elogiado por Campos Neto, que reconheceu “o grande esforço que o ministro Haddad e o governo têm feito”. “O que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva", disse. Palavras dele, e não minhas. Apenas registro.
Campos Neto também fez estimativas positivas sobre a aprovação da Reforma Tributária, que deve ser debatida pelo Senado no 2° semestre. Sua avaliação é que ela deve ter impacto direto de 1% a 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro a partir do próximo ano, principalmente pela antecipação dos ganhos da reforma e a criação de condições para novos investimentos.
As mais recentes projeções do Fundo Monetário Internacional apontam para um crescimento de 2,1% do Brasil em 2023. Na mesma linha vai o Boletim Focus, que tem atualizado os prognósticos para PIB, juros e inflação de forma positiva. Campos Neto está longe de ser comunista ou agente a serviço do bolsonarismo. A condução técnica do Banco Central não apenas não é oposicionista como ajuda o Brasil a ficar muito distante da argentinização vaticinada por catastrofistas e outros propagandistas do caos.