Ninguém pode se surpreender com as recentes operações da Polícia Federal, primeiro contra o deputado Alexandre Ramagem e, mais recentemente, contra Carlos Bolsonaro, o filho 02 do ex-presidente. Não se trata de “perseguição à oposição”, “vingança” ou qualquer classificação vitimizadora que a narrativa bolsonarista busque impingir para deslegitimar a necessária investigação sobre o suposto uso indevido do aparato tecnológico e dos serviços de inteligência que deveria servir apenas o Estado.
O próprio termo “Abin paralela” não é novo. As buscas e apreensões, bem como o conteúdo da investigação contra Ramagem, que foi diretor da agência entre 2019 e 2022, apenas materializam as declarações dadas por Gustavo Bebbiano ao programa Roda Viva em 2020, quando cunhou a expressão ao relatar a ocasião em que Carlos Bolsonaro apareceu “com o nome de um delegado federal e três agentes, que seria uma Abin paralela”. Segundo o ex-ministro, que morreu pouco tempo depois, essa ideia surgiu da “paranoia familiar de não confiar em ninguém”.
Não se trata de “perseguição à oposição”, “vingança” ou qualquer classificação vitimizadora que a narrativa bolsonarista busque impingir.
O que se evidencia, entretanto, é que a simples “paranoia” não limitou as atribuições dessa organização secreta incrustada na estrutura pública. Mais do que apenas municiar o clã com informações ilegais, as investigações apontam para uma rede de monitoramento que vigiou cerca de 30 mil pessoas, dentre elas autoridades que os Bolsonaro tomavam como “inimigos”, caso de Alexandre de Moraes, Rodrigo Maia e Gilmar Mendes.
“Sistemas de informações: o meu funciona. O meu particular funciona. Os ofi… que tem oficialmente, desinforma. E voltando ao … ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, chegou a dizer o ex-presidente durante a malfadada reunião ministerial de abril de 2020. Aquela mesmo que foi usada por Sergio Moro como prova de que Bolsonaro queria intervir na Polícia Federal.
Em entrevista para a rádio Jovem Pan, o ex-presidente, disse que o objetivo da operação deflagrada contra Ramagem e seu filho era “esculachar”, e tentou justificar o que seria a sua “inteligência particular”: “Eu tinha minha inteligência particular. O que é a minha inteligência? Não é um braço da Abin. Não é um braço da PF. Ninguém. A minha inteligência particular são as pessoas que eu conheço não só no Brasil como ao redor do mundo. Sempre que algo acontece, eu ligo para essas pessoas”, falou.
Nas últimas duas semanas, em que se seguiram as buscas e apreensões no âmbito da operação “Vigilância Aproximada”, sedizentes liberais condenaram as investigações e as ações tendo parlamentares da oposição bolsonarista como alvo. Mas isso é desviar a atenção com falsa polêmica para o que é realmente alarmante, e, em certa medida, até inédito na história recente do Brasil: uma agência de inteligência posta para arapongar todo e qualquer indivíduo que seja identificado como alvo de um grupo político. Um aparato que, se comprovado, será digno de regime policial.
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