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Jantar de Tarcísio é visto como sinalização de que Campos Neto será seu "posto Ipiranga"
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, recebe colar de honra ao mérito na Alesp sob elogios do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)| Foto: Marcelo S. Camargo/Governo de São Paulo

Ao contrário do que Lula e certos grupos políticos de esquerda dizem, Roberto Campos Neto vem fazendo um trabalho correto na presidência do Banco Central. Boa parte das críticas técnicas que lhe são feitas não tem base em números. A política monetária conseguiu calibrar quedas na taxa de juros sem paralisar o PIB e, pari passu, controlar a inflação. O resultado, em 2023, foi o crescimento de 3% do país e um IPCA dentro da meta, o que não aconteceu nos últimos anos. O saldo positivo, entretanto, não deveria subir à cabeça de Campos Neto, que deveria cuidar da compostura pública. O presidente do BC tem aparecido demais, e pelas piores razões.

Na última semana, o jornal Folha de São Paulo noticiou que Campos Neto, em encontro com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sinalizou que aceitaria ser seu ministro da Fazenda caso este concorra ao Palácio do Planalto. A matéria não foi desmentida. Imagine Jerome Powell, atual presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, falando sobre cargos que poderia ocupar numa futura administração de Donald Trump estando Joe Biden no poder. É uma situação impensável.

Lula é um agente político. Campos Neto não. Pelo menos não deveria agir como tal, ainda que, vá lá, tenha suas preferências

O instituto da autonomia do BC não serve apenas para preservar a entidade da intromissão do Executivo na política monetária, mas também para evitar a intromissão dos quadros do BC no mundo político-partidário. Ou a tal autonomia do BC se justifica para blindá-lo das críticas de Lula aos juros mas não das participações de seu presidente em convescotes eleitoreiros no Palácio dos Bandeirantes?

Em entrevista para rádio CBN, Lula criticou a postura de Campos Neto e aproveitou para ressaltar sua visão contrária à atual política monetária: "Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", declarou Lula.

Ainda que se possa discordar do presidente quanto ao mérito técnico, na forma ele está correto. Lula é um agente político. Campos Neto não. Pelo menos não deveria agir como tal, ainda que, vá lá, tenha suas preferências. Que as guarde para si. Não se pode esquecer que, na polarizadíssima eleição de 2022, ele já havia agido de forma inadequada, indo votar trajando de verde e amarelo. Ainda que tais cores sejam da bandeira brasileira e possam ser reivindicas por qualquer um nascido no país, foi inequívoca sua instrumentalização política pelo bolsonarismo. Seu “look do dia” da eleição foi tomado como posição política, e nem poderia ser diferente.

Agora Campos Neto avançou algumas casas em relação ao precedente que ele mesmo estabeleceu. Na prática, o que ele fez foi confraternizar com opositores e conjecturar sobre um cenário eleitoral futuro em que atual presidente da República pode figurar como candidato. Com isso, o presidente do BC contribui para desmoralizar a autonomia do BC que ele mesmo ressalta ser tão importante.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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