Jair Bolsonaro não concorrerá na eleição de 2026. Até seu círculo mais íntimo sabe disso, ainda que tente vender esperança para os militantes. Tornado inelegível em correta decisão do Tribunal Superior Eleitoral, o ex-presidente tem, entretanto, um enorme espólio político a ser explorado. Hoje, só ele é capaz de mobilizar uma multidão como a que se viu em 25 de fevereiro na Avenida Paulista. É o grande cabe eleitoral da direita, que precisará encontrar um novo representante para disputar o poder com Lula. Experiente, articulado e reeleito como governador de Goiás, Ronaldo Caiado já colocou seu bloco na rua.
De certo modo, Caiado pode se tornar o fiel depositário do ideário bolsonarista, ainda que bolsonarisa ele não seja (pelo menos no sentido mais amplo). É, aliás, um dos mais longevos representantes do conservadorismo político brasileiro desde o início da Nova República. Em 1989, quando Bolsonaro desempenhava a função de vereador no Rio de Janeiro, Caiado disputou a primeira eleição presidencial da redemocratização.
A única ameaça para Caiado é ser alvejado por fogo amigo. Ele não é o único, afinal, a ambicionar liderar a oposição ao atual governo.
O governador de Goiás não deve sua carreira ao ex-presidente. Ainda que sejam amigos, nem sempre estão de acordo, como evidencia o posicionamento dos dois em relação à vacinação. Enquanto Bolsonaro oferecia cloroquina para emas, Caiado defendia medidas de controle visando diminuir a propagação da Covid. Médico internacionalmente reconhecido, jamais foi um negacionista da pandemia.
Caiado tem ativos valiosos para construir uma candidatura sólida. Faz um governo virtuoso e bem avaliado em Goiás, sendo o governador mais aprovado do Brasil. Tem um discurso forte na temática da segurança, não se deixa seduzir pelo discurso fácil antipolítico, é líder relevante no maior partido do país, não enfrenta processos na Justiça, e é bem relacionado com o agronegócio, do qual sempre foi um entusiasta, não apenas como mandatário, mas também como produtor rural.
Nessa semana, Caiado foi a Israel encontrar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Estava ao lado de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Sua agenda no Oriente Médio serve para demarcar posição política em temática nacional e antagonizar o discurso com Lula, que protagonizou um incidente diplomático com o país ao fazer uma comparação descabida entre a guerra na Faixa de Gaza e o Holocausto.
Há um imenso segmento da sociedade em busca de um representante. E talvez ele, mais do que outros nomes no campo da direita, consiga encontrar o ajuste fino que cative tanto bolsonaristas quanto o eleitorado de centro, que está sendo espantado por Lula de volta para o antipetismo. A única ameaça para Caiado é ser alvejado por fogo amigo. Ele não é o único, afinal, a ambicionar liderar a oposição ao atual governo e ficar com os votos cativos de Bolsonaro.
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