| Foto: Reprodução/G1
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Consumado que se tornara o primeiro presidente não reeleito da história do Brasil, Jair Bolsonaro se homiziou no Palácio da Alvorada num silêncio que, a princípio, parecia algo entre a consternação política e o estado psicológico de negação. Não cumprimentou Lula pela eleição, nem fez contato com ministros e aliados políticos. E assim se manteve, mesmo com as manifestações públicas de Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, Augusto Aras, Rosa Weber e a comunidade de líderes globais, que se posicionaram de maneira a também blindar o resultado da votação. Mas o silêncio era método, e sua grei viu nisso a sinalização para agir em nome de um Estado de sítio, da aplicação do Artigo 142 da Constituição ou de qualquer outra diatribe militarista que materializasse seu sonho de quartelada.

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Desde o término do segundo turno, militantes passaram a bloquear rodovias pelo país. O movimento ganhou expressão e amplitude na falta de reação imediata da Polícia Rodoviária Federal, que se mostrou diligente para fiscalizar pneus carecas no dia da eleição, mas fez vista grossa ante os piquetes armados por golpistas. Dezenas de estradas em onze estados registraram interdições, e até mesmo aeroportos foram afetados. A condição levou a Confederação Nacional dos Transportes a acionar o Supremo Tribunal Federal. Alexandre de Morais determinou a imediata ação da PRF, sob pena de multa e até prisão para seu diretor-geral, Silvinei Vasques.

A maior parte da população, que votou em Lula e também em Bolsonaro, está sendo chantageada com a ameaça de caos. Ou se faz a vontade desses gatos pingados ou se inviabiliza o país.

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Vídeos que circularam nas redes sociais mostram a pouca vontade de muitos agentes que deveriam desobstruir as vias. Alguns atuavam até em apoio logístico aos subversivos, descumprindo as ordens. Fica evidente que o bolsonarismo inoculou o vírus da insubordinação em setores das forças de segurança, que passaram a agir em solidariedade aos criminosos gerando caos pelo país. Foi só após a decisão do STF que a contenção de fato começou, inclusive com a intervenção das Polícias Militares estaduais.

Qual é a agenda dessa gente que está na rua a não ser a negação do resultado da eleição? Qual o método que não o da chantagem pura e simples? Tanto o meio quanto o fim são delinquentes. A maior parte da população, que votou em Lula e também em Bolsonaro, está sendo chantageada com a ameaça de caos. Ou se faz a vontade desses gatos pingados ou se inviabiliza o país. A tática é de natureza terrorista.

Na tarde dessa terça-feira, quase dois dias após o 2º turno, Bolsonaro finalmente rompeu o silêncio. Mas apenas depois de muita conversa de bastidores, inclusive com a recusa dos ministros do STF em encontrá-lo antes que fizesse alguma sinalização pública. O presidente falou rapidamente. Não pediu abertamente que seus apoiadores se recolhessem, muito menos reconheceu o resultado de forma objetiva. A única sinalização institucional veio por Ciro Nogueira, que informou ter sido autorizado a iniciar o processo de transição, ainda que isso exista na forma de lei.

Sem um novo mandato e ciente de que a possibilidade de questionar a votação tornou-se nula, o que restou a Bolsonaro foi usar a capacidade de mobilização de seus eleitores mais radicalizados para barganhar as melhores condições para sua saída do poder. Está claro que ele pode acioná-los como meio de pressão, e que eles estão dispostos a imobilizar o país se for necessário. Sedizentes conservadores que não passam de bandoleiros reacionários a perverter o sentido de patriotismo, fazendo dele apenas pretexto para o exercício alucinado de fé em um político ressentido pela derrota.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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