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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

A tentativa de atentado em Brasília tem cúmplices morais e intelectuais

Policiais civis do Distrito Federal conduzem o acusado de planejar atentado a bomba em Brasília
Policiais civis do Distrito Federal conduzem o acusado de planejar atentado a bomba em Brasília. (Foto: G1/reprodução)

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É preciso, desde já, reforçar a segurança do ato de posse de Lula. Além da presença das autoridades políticas e institucionais e de delegações de dezenas de outros países, é previsto um contingente muito grande de pessoas na capital federal já antes do dia 1º de janeiro. O ocorrido no final de semana, quando se desarmou um artefato explosivo acoplado em um caminhão de combustível próximo ao aeroporto de Brasília demonstra que há quem não meça as consequências para impedir o ato de transmissão da faixa presidencial. Nem que para isso se faça um banho de sangue.

O responsável pela tentativa de atentado é o bolsonarista George Washington Sousa, que atua como empresário no ramo do gás no estado do Pará. Desde novembro ele se mudou para o Distrito Federal para participar dos atos antidemocráticos que se concentram impunemente na frente dos quartéis pelo país. Foi nesse ambiente golpista que ele, e, segundo o próprio relato que teria dado para a polícia, mais uma pessoa, articularam a ação criminosa. Na tarde desta segunda-feira (26), a investigação do caso identificou o outro suspeito. Seria um indivíduo chamado Alan Diego dos Santos.

Quem diria que o discurso golpista, a contestação permanente da eleição e a linguagem de extremismo político resultariam numa tentativa de atentado com artefato explosivo, não é mesmo?

Estamos diante de um caso clássico de terrorismo doméstico, ainda que os responsáveis venham a responder somente por crimes contra o Estado Democrático de Direito. A legislação antiterrorismo do Brasil é insuficiente ao não tipificar crimes dessa categoria que tenham sido praticados por motivação política.

Fato é que o tal Washington Souza tinha posse de um verdadeiro arsenal, que incluía escopeta, revólver, bananas de dinamite e um fuzil Spriengfild. Gastou mais de 170 mil reais em armamentos e munições, levando tudo para Brasília dentro de uma caminhonete. Sua intenção manifesta era “criar o caos” de maneira a servir de parâmetro para atos semelhantes e, com isso, motivar uma intervenção das Forças Armadas. Segundo bolsonaristas, não passa de outro desses “infiltrados de esquerda” a tentar prejudicar a reputação dessa boa gente patriota que só deseja um golpe de Estado. Acredite se quiser.

Em julho deste ano, Jair Bolsonaro disse em uma de suas lives que “sabemos o que temos que fazer antes das eleições”.  Nunca especificou o que deveria ser feito. Ainda em abril, por conta de um encontro de Lula com empresários, o ainda presidente disse, num evento com supermercadistas, que “uma granadinha mata todo mundo”. É “força de expressão”, dirá o passador de pano.

Até quando vai se ignorar o impacto e a relevância desse tipo de declaração?

Quem diria que o discurso golpista, a contestação permanente da eleição e a linguagem de extremismo político resultariam numa tentativa de atentado com artefato explosivo, não é mesmo? Há um ambiente de estimulo para a ação desses elementos, que são insuflados pelo discurso de políticos e influenciadores.

Quem plantou a bomba não agiu sozinho. É preciso apurar a cadeia hierárquica moral e intelectual dos incentivadores do radicalismo, responsáveis por criar o clima em que militantes se sentem livres para botar em prática a violência política.

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