Donald Trump e Vladimir Putin| Foto: EFE/ Anatoly Maltsev
Ouça este conteúdo

Que a abordagem de Donald Trump para a guerra entre Ucrânia e Rússia seria diferente da de Joe Biden isso todos sabiam. O que ninguém imaginava, talvez nem mesmo alguns de seus mais entusiasmados apoiadores, seria que, ao retomar as negociações com o ditador Vladimir Putin, o presidente norte-americano incorporaria o tom discursivo do Kremlin. Nos últimos dias, Donald Trump e seus aliados, especialmente o bilionário Elon Musk, se dedicaram a espezinhar, desmoralizar e desconstruir o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky.

CARREGANDO :)

Na última quarta-feira (19), em uma publicação na rede social Truth Social, Trump acusou Zelensky ser um “ditador sem eleições”. A acusação decorre da suspensão das eleições na Ucrânia, mas não tem cabimento, uma vez que o país está em guerra, vítima de uma ação militar criminosa da Rússia. O que Trump deseja, afinal? Que Zelensky entre em campanha política enquanto os eleitores são bombardeados? Que haja votação sob o risco de ataques. A democracia precisa de estabilidade para se consumar.

Até aqui, a conduta de Trump nas conversas com Putin compromete a imagem dos Estados Unidos como líder do mundo livre. Além de ter atraiçoado uma nação que buscou proteção no Ocidente, ele deliberadamente alijou os aliados europeus do processo de negociação

Publicidade

A decisão de não realizar o pleito não decorre de uma arbitrariedade do presidente ucraniano, mas de uma circunstância imposta pela Rússia e seu expansionismo belicoso. A própria Constituição da Ucrânia impede a realização de eleições sob a vigência de Estado de Guerra, situação em que se encontra desde 2022 e Donald Trump não pode fingir desconhecer essa realidade. O faz, portanto, de má-fé, como se Zelenzky e Putin fossem autocratas equivalentes. Não passa de relativismo.

Muitos estão comparando Trump com Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico que tentou evitar a II Guerra Mundial negociando com Hitler. É injusto. Chamberlain foi, sim, enganado pelo ditador nazista, mas nunca chegou ao ponto de, tratando com ele, passar a concordar com seu ponto de vista sobre a Europa.

Em 1987, já nos estertores da Guerra Fria, o presidente Ronald Reagan, luminar do conservadorismo americano no Século XX, foi aos portões de Brandemburgo desafiar a União Soviética a derrubar o Muro de Berlim. “Secretário Geral Gorbachev, se você procurar paz, se você procurar a prosperidade para a União Soviética e Europa Oriental, se você procurar liberalização, venha aqui a este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube este muro!", disse vaticinando a queda da “cortina de ferro”.

Até aqui, a conduta de Trump nas conversas com Putin compromete a imagem dos Estados Unidos como líder do mundo livre. Além de ter atraiçoado a Ucrânia, uma nação que buscou proteção no Ocidente, Donald Trump deliberadamente alijou os aliados europeus do processo de negociação, o que difere de cobrar deles maior participação financeira no apoio militar. Pragmatismo não é sinônimo de prostração. Reagan se revira no túmulo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade