Era dado de barato que o Banco Central manteria a taxa de juros em 10.5%. As razões técnicas são pungentes e constam na nota publicada no site da instituição. A saber: pressões inflacionárias globais, resiliência na inflação de serviços, desaceleração da atividade econômica e aperto monetário de outros mercados. O texto ressalta também que o Copom (Comitê de Política Monetária) “avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas” e que “monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”. A única surpresa foi a decisão ter sido unânime, incluindo o apoio dos quatro diretores indicados no governo Lula.
Mesmo com o alarido político liderado pelo presidente, todos os integrantes do órgão deliberaram em linha, acentuando as preocupações que rondam a economia. Este zelo, é bom ressaltar, difere do catastrofismo. É importante considerar a sinalização do Banco Central, especialmente para o problema das contas públicas.
Para qualquer modificação profunda em qualquer dessas áreas, é necessária muita disposição política e uma articulação com o Congresso que o governo, até aqui, se mostrou incapaz de fazer
Em seu editorial, a Gazeta do Povo sublinhou o trecho da nota em que o Copom “reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação”. Traduzindo do economiquês: é preciso trabalhar o equilíbrio fiscal também pelo lado dos gastos.
Na última semana, os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet começaram a se debruçar no desenho de um possível plano de cortes. Ainda não está claro como serão realizados, já que, em boa medida, o governo adotou o lema dilmista de que “gasto é vida”. Voltaram as especulações sobre rever desonerações fiscais, que já foram alvo de críticas do ministro da Fazenda. Também se falou sobre desvinculação de benefícios previdenciários do salário mínimo, e até mesmo uma reforma previdenciária centrada nos militares.
Por enquanto, tudo não passa de espuma, que serve para movimentar as editorias de economia dos jornalões. Se mexer em desonerações, o governo terá de escolher qual setor da economia perderá incentivos; se tentar alterar as vinculações previdenciárias, comprará desgaste com a base de esquerda; se for para cima dos militares, pode acabar minando a reaproximação política que vem sendo construída desde a volta do PT ao poder. Seja qual for a opção adotada, não será um caminho fácil. Para qualquer modificação profunda em qualquer dessas áreas, é necessária muita disposição política e uma articulação com o Congresso que o governo, até aqui, se mostrou incapaz de fazer.
Ainda que o presidente do Banco Central tenha errado na postura pública (e o condenei por participar de encontros políticos com líderes da oposição), imaginar que criticá-lo pelo trabalho técnico que faz a instituição é tão oportunista quanto improdutivo. Seria melhor Lula lembrar dos versos de Carolina, música de Chico Buarque:
“Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada ajudar”
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