O mapa eleitoral norte-americano foi pintado de vermelho vivo na última terça-feira, dia 5 de novembro. A data marcou a vitória e o triunfo supremo de Donald Trump e sua volta para a Casa Branca, numa das maiores reviravoltas políticas da história da democracia ocidental. O recado da população para certa elite progressista foi pungente. A vitória do candidato republicano foi tão avassaladora e completa que obrigará o Partido Democrata e as esquerdas a se reinventarem, sob pena de sofrerem derrotas ainda maiores no futuro.
Além do Executivo, com a vitória de Trump em todos os estados pêndulos, os republicanos elegeram também a maior parte dos governadores e obtiveram maioria nas casas legislativas federais e estaduais. É o que, nos Estados Unidos, costuma se chamar “landslide”. No linguajar político brasileiro o equivalente é: fez barba, cabelo e bigode. Ao contrário de 2016, quando foi eleito pela primeira vez através da regra do Colégio Eleitoral, em 2024 Trump também ganhou no voto popular, com uma diferença considerável de Kamala Harris.
O recado da população dos Estados Unidos foi claro, mas a tal elite, que deseja ser régua moral e comportamental da sociedade, parece continuar a ignorá-lo
Para espanto dos democratas e intelectuais progressistas, Trump melhorou seu desempenho em quase todos em segmentos étnicos e sociais, incluindo homens e mulheres negras, assim como latinos. Seu discurso político e econômico furou a bolha da idealização sociológica que a esquerda faz desses grupos, dialogando diretamente com indivíduos que viram suas condições básicas se deteriorarem, principalmente com a inflação incomum que se identificou nos Estados Unidos.
O voto americano é mais prático do que ideológico. Ainda que o discurso politicamente correto tenha virado um veneno corrosivo na sociedade, e Trump tenha se tornado o símbolo máximo na luta contra isso, o que o eleitor médio quer é oportunidade, emprego e possibilidade de prosperar. Kamala era uma péssima candidata, escolhida apenas pela conveniência pragmática da elite do Partido Democrata e ficar com os recursos já arrecadados pela campanha de Joe Biden. Foi o desastrado governo do atual mandatário, entretanto, o grande responsável pela derrota.
Em certos círculos do dito "progressismo", agora se atribui a derrota de Kamala Harris à misoginia. A "tese" é de que o eleitorado majoritário não quer uma mulher governante. É esse tipo de lixo intelectual pedante que foi repudiado nas urnas. Alguns dias antes da eleição, o próprio Biden chamou os apoiadores de Trump de “lixo”. É o tipo de declaração que não sai impune. Não há nada mais estúpido do que julgar e ofender o eleitorado por sua escolha. Pode-se discordar, por óbvio. Mas toda decisão eleitoral tem fundamento lógico e é baseado no cotidiano das pessoas.
O recado da população dos Estados Unidos com a vitória de Trump foi claro, mas a tal elite, que deseja ser régua moral e comportamental da sociedade, parece continuar a ignorá-lo. Não aprenderam nada e não esqueceram nada, como disse certava vez Charles-Maurice de Talleyrand aos Bourbon. Ao invés de admitirem seus erros, os acadêmicos, parte da imprensa, artistas e engenheiros sociais bem remunerados resolveram culpar o povo. Continuarão a pagar o preço nas urnas.
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