O ataque de tropas russas à usina nuclear de Zaporozhzhia, a maior da Europa, é revelador do modus operandi que as forças militares a mando de Vladimir Putin adotaram nessa guerra criminosa que o Kremlin empreende na Ucrânia: o terrorismo. Não há outra palavra para descrever a conduta de quem dispara contra instalações que, uma vez comprometidas, podem representar risco de contaminação radioativa. E no caso específico, em um nível que poderia ser muitas vezes superior ao registrado em Chernobyl. Como fica evidente, não é preciso disparar misseis atômicos para se produzir uma tragédia nuclear de grandes proporções.
Foi o governo da Rússia quem colocou o risco de guerra nuclear na mesa. A começar pelo fato de ter iniciado o conflito. Putin parece inconformado com o fato de que o mundo civilizado se recusa a anuir com o barbarismo que pratica ao levar a cabo uma guerra injustificada contra um país soberano e democrático. Diante do maior conjunto de sanções da história da humanidade, resolveu colocar suas forças de dissuasão em alerta especial de combate. Em reunião com seus assessores militares, disse que as nações ocidentais haviam tomado “ações hostis”. Um despropósito típico de uma autocrata.
Na última quarta-feira (2), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov falou abertamente na possibilidade de um conflito de escala global. Em entrevista para a emissora Al Jazeera, declarou que a única resposta para as restrições econômicas impostas pelas potências ocidentais ao seu país seria uma guerra mundial. Com isso, o lacaio de Putin deu a medida de até onde o Kremlin pode ir para estabelecer seu domínio sobre a Ucrânia. Como se sabe que tal guerra só poderia ser travada com armamento nuclear, a coisa toda também se torna uma chantagem imposta contra toda a humanidade.
A escalada no terrorismo retórico vem na esteira do aumento da violência do ataque na Ucrânia e também na repressão interna aos que repudiam a guerra. A democracia de fachada da Rússia pós-União Soviética vai se convertendo finalmente numa tirania escancarada, retrocedendo para o que era no regime anterior. Além das prisões arbitrárias de milhares de manifestantes que foram às ruas em Moscou e outras cidades para protestar contra a ação militar, os meios de exercer a crítica e também a oposição estão sendo restringidos por meio da censura. Redes sociais estão sendo proibidas, e se criminalizou até mesmo o vocabulário. Putin vai mandar para a cadeia quem chamar guerra de guerra.
Como disse o analista internacional Igor Sabino em meu programa na Rádio Bandeirantes, Putin não pode retroceder sob pena de parecer fraco. O projeto do agora abertamente ditador da Rússia é reestabelecer o Império Czarista. Ele faz questão deixar claro que não medirá esforços para tanto. Nem que para isso precise reviver a cortina de ferro, a guerra fria e até mesmo o flerte com o apocalipse radioativo. E há que ainda diga que se trata de uma situação “complexa”.
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