Paulo Freire| Foto:

Paulo Freire nasceu em 1921 e morreu em 1997. Teve tempo de sobra para destruir a educação brasileira; com a educação, a política.

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Sua nefasta influência corroeu o ensino de duas, três gerações. Não aprendemos português ou matemática, geografia ou história, biologia ou química. Tudo culpa dele.

Aprendemos ideologia, ideologia, ideologia.

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É preciso exorcizar Paulo Freire de uma vez por todas, jogá-lo ao mar, cravar nele uma estaca, atirar nele com uma bala de prata, antes que percamos de vez a capacidade de compreender conceitos básicos e de fazer distinções fundamentais, como ditadura e democracia, autoritarismo e liberdade, civilização e barbárie, imprensa e censura.

Vejam o Eduardo Bolsonaro, é um eloquente exemplo.

Eduardo Bolsonaro só pode mesmo ser resultado de uma calamidade educacional sem precedentes. Ele é vítima do contexto que tanto denuncia. Eduardo merece cota para participar da polis, porque o cursinho express de liberalismo parece não ter funcionado. Só isso explica sua incapacidade de entender o bê-á-bá da vida civilizada: ditadura é ditadura, democracia é democracia. Ditadura não se justifica enquanto tal; é um fenômeno que pode ser estudado e compreendido contextualmente, mas nunca aplaudido ou justificado em si mesmo.

Quais são as confiáveis fontes do excelentíssimo para dizer que “naquele tempo era bom”? Os avós e os pais da gente.

Nessa versão esquisita de resgate da alta cultura de um país, a ignorância dos nossos avós e pais se transformou em referência bibliográfica incontornável. Não importa se o seu avô estava distraído vendo a seleção de 70, ou se seu pai queria mesmo era emprego de funcionário do Banco do Brasil. Na nova era, todo vovô é um retroativo Simon Schama, todo papai é um George Steiner avant la lettre.

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Os mesmos vovôs e papais que depois votaram no Maluf, no Collor, no Lula, na Dilma.

No Bolsonaro.

Qualquer revisionismo histórico pode ser feito, não deve ser impedido, desde que algumas premissas sejam aceitas. Você pode considerar que tal acontecimento político (por exemplo, o golpe de 64) era inevitável. Você pode avançar mais um pouco e ponderar que, mais do que inevitável, talvez fosse mesmo necessário (por exemplo, por causa do comunismo). No entanto, não pode redefinir o sentido das palavras e do que elas representam. O que se passou nos vinte e um anos depois daquele 31 de março não é motivo de louvor nem saudade, ponto.

Ponto não, dois pontos: pelo jeito, para o Bolsonaro é.

O presidente confirmou a autorização para que quarteis comemorassem a data e soprassem as velinhas e cantassem o hino nacional. Não duvido nada que muito militar de hoje tenha torcido o nariz para o despautério de ontem, mas ordens são ordens.

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Que a esquerda usa o golpe como chantagem política ninguém pode negar. A tática é a seguinte: tudo o que lembra vagamente a direita, a esquerda acusa de fascismo. O problema é que a direita gostou do personagem e quer mesmo vestir a roupinha de Mussolini.

O resultado é que ambos, autoritários de direita e esquerda, retrógrados de direita e esquerda, ignorantes de direita e esquerda, preferem olhar no retrovisor e não na pista. Um acusa o outro de ser aquilo de que o outro se orgulha de ser, e todos ficam satisfeitos com os respectivos papéis. Clássico é clássico e vice-versa.

E quem luta de verdade por um país mais livre e menos rançoso? Entre os que mandam, quase ninguém.

A continuar assim, “o Brasil terá um longo passado pela frente”, como dizia o Millôr Fernandes.

Os comunistas são culpa do Paulo Freire. Os anticomunistas também.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]