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Liev Tolstói disse que todas as famílias felizes se assemelham, mas as infelizes o são cada uma à sua maneira. Quando o assunto é política, o contrário me parece mais verdadeiro: os países felizes são diferentes uns dos outros; os infelizes são muito semelhantes na infelicidade.

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Depois de atingido certo patamar de autoritarismo, não existem diferenças significativas entre ditaduras de direita e de esquerda. Estados totalitários massacram cidadãos, censuram a imprensa, prendem e executam opositores, torturam manifestantes, manipulam notícias, proíbem o debate, violam direitos humanos.

Por isso é que sempre julguei desperdício de tempo e energia intelectual discutir se o nazismo é ortodoxamente de direita ou, numa interpretação heterodoxa, de esquerda. O que importa é que União Soviética e Alemanha são mais parecidas entre si do que Estados Unidos e Suécia.

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O roteiro de uma ditadura é previsível: formação de uma “nova classe” burocrática (Milovan Đilas) que só representa e enriquece a si mesma; enrijecimento progressivo das liberdades civis e políticas; descrédito do governo representativo; democracia direta e supervisionada; populismo nacionalista; identificação de inimigos externos ou internos; instrumentalização do medo.

Coincidências à parte, uma coisa é certa: se o resultado está além da ideologia, os fundamentos não. É possível, e até certo ponto fácil, rastrear as ideias e premissas ideológicas deste ou daquele Estado, desta ou daquela autocracia, para determinar sua origem e seus primeiros cultores. Essa busca importa para que a doença seja compreendida, prevenida e remediada a tempo.

Reparem no que a jornalista Milly Lacombe escreveu sobre a catástrofe em Brumadinho: “É analisando esse tipo de absurdo que a gente entende que, afinal, Lula e o PT nunca foram de esquerda. Se fossem teriam feito muito pelo meio-ambiente e pelos povos nativos. Mas a verdade é que seguiram privilegiando o capital, a despeito das muitas melhorias sociais”.

O que ela diz não é novidade. Nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação da ditadura Maduro, mais de um comentarista político resolveu admitir que alguma coisa errada não estava certa com tudo aquilo, feita a seguinte ressalva: Maduro nunca foi de esquerda. Maduro é quase o Paulo Maluf. A esquerda, quando dá errado, nunca é de esquerda.

O problema é que a esquerda comunista tem o hábito de errar. Existe uma experiência socialdemocrata, de centro-esquerda, que se mostra viável e civilizada. Não é a melhor opção, mas negar as diferenças entre a centro-esquerda (europeia e americana) e o comunismo (chinês ou soviético) é negar os fatos em favor dos esquemas conceituais.

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Entretanto, as reiteradas tentativas de instaurar uma esquerda radical que estrangule o mercado, estatize a propriedade e suprima as liberdades individuais não têm como dar certo. Quando dá certo para eles dá errado para nós.

Estados totalitários são como filhos crescidos que entram para a vida do crime: depois de perdidos, só a cadeia resolve. Porém, não custa lembrar que esses Estados já foram crianças um dia, pareciam até bonitinhos, têm pai e têm mãe, nome e sobrenome. Cuba, URSS, China, Venezuela deram nisso. Esquerda, toma que o filho é teu.