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Os lembrados e esquecidos do Oscar sempre foram motivo de controvérsia. É comum que os critérios estéticos se confundam com os políticos e mercadológicos. Há o lobby de estúdios e as reações do público e da crítica nos meses anteriores à cerimônia. Certos filmes começam oscarizados e perdem tração; outros ganham terreno na última hora e terminam levando a estatueta pra casa.

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Entretanto, faz algum tempo que a Academia tem se esmerado por esvaziar de vez o conteúdo artístico da festa. As ideias de representatividade e inclusão foram adotadas de tal maneira que já não se julga um filme como bom ou ruim, mas como inclusivo ou não, representativo ou não, socialmente relevante ou não. No mínimo, tem de ser fofo. Tudo virou discurso político ou sentimentalismo barato e, se em vez de filmes, os diretores, roteiristas e atores organizassem um comício ou um sarau, pouca gente notaria a diferença.

Este ano, Rami Malek ganhou como melhor ator. Pfui. Ao agradecer, lembrou que Bohemian Rhapsody é um filme sobre “um homem gay, imigrante”. Deve ser a primeira vez que alguém se lembra de um dos maiores cantores da história da música pop – famoso, rico, excêntrico, autoconfiante, despudorado, genioso e genial – como “um homem gay, imigrante”. Isso nunca contou para Freddie Mercury. Agora conta, depois de morto.

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A propósito, Malek venceu como Freddie Mercury, mas poderia ter vencido como Mônica, do Maurício de Souza. Alguns bons momentos, muitos maus momentos. O filme todo, aliás, me pareceu mal editado, um tanto cafona, sem muito apuro, como se produzido pelo SBT. Cinebiografia para agradar fãs menos exigentes do grupo. Emociona, de fato, porque muitos sentimentos estão envolvidos e foi feito para apertar os botões de emocionar.

Longe de mim o desapreço à ideia de inclusão, no que ela tem de mais elementar: preconceitos não podem se intrometer na avaliação de uma obra. Ninguém deve perder por ser negro, mulher, gay, pobre, mexicano. Ninguém deve ganhar por ser negro, mulher, gay, pobre, mexicano. Quando o discurso ideológico se sobrepõe ao mérito artístico, a premiação se converte numa pantomima condescendente e politicamente correta.

É o que está acontecendo com o Oscar, quando o caminho a ser tomado deveria ser outro. Que os trabalhos bons sejam reconhecidos como bons; os ruins, como ruins. Acentuar além da conta a ideia de que se está a premiar certa agenda, valores sociais, representatividade, origem étnica ou orientação de gênero é acentuar que a excelência é um detalhezinho que não vem ao caso. A brincadeira não vale nada. Aos poucos, num círculo vicioso, a premiação em si mesma perderá sua relevância, e os premiados ganharão estatuetas que já ninguém quer ou se importa de ganhar. Serão oscares de Pirro.